MERVAL PEREIRA O GLOBO
Andou meio em moda entre
os petistas a avaliação de que o pior já passou. A presidente Dilma
teria permanecido estável nos baixos índices de popularidade, segundo os
trackings diários de pesquisas de opinião, o que significaria que ela
havia chegado ao fundo do poço, de onde só poderia subir. Ledo e ivo
engano, como diz o Cony.
As más notícias começaram a surgir aos
borbotões. O salário dos trabalhadores teve uma queda recorde em
fevereiro, a maior em 12 anos. O desemprego subiu pela terceira vez
seguida. Após um déficit de R$ 7,4 bilhões em fevereiro, o governo
central - que reúne Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central
- registrou superávit primário de R$ 1,463 bilhão em março. O resultado
representa uma queda de 54,3% na comparação com o registrado em março
do ano passado.
No acumulado do primeiro trimestre, de janeiro a
março, o resultado primário do governo central caiu 65,8% na comparação
com o mesmo período do ano passado. O superávit primário ficou em R$
4,485 bilhões, ante R$ 13,120 bilhões nos três primeiros meses de 2014, o
pior superávit do período desde 1998.
O FMI prevê que o Brasil
terá a maior desaceleração da economia em mais de duas décadas. O
resultado é que a presidente não tem condições políticas para convocar
uma cadeia nacional de rádio e televisão para falar ao povo no Dia do
Trabalho. Melhor dizendo: o governo do Partido dos Trabalhadores não
falará aos próprios no dia 1º de Maio, como sempre fez nos últimos 12
anos.
Tanto Dilma quanto Lula não têm mais condições de sair na
rua sem que o ambiente esteja previamente controlado pelo esquema de
segurança petista. Coube ao Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o
responsável terceirizado pela política econômica do governo, lembrar aos
políticos que o pior ainda não passou.
Levy, quando assumiu a
Fazenda debaixo de desconfiança dos petistas, tinha uma bala na agulha:
cada vez que sofria um ataque de desestabilização, lembrava que o país
poderia perder o grau de investimento, o que seria desastroso.
Como
essa ameaça foi superada no plano imediato, os inimigos desse estranho
no ninho voltaram à carga, querendo reduzir o ajuste fiscal que ele
montou como medida básica para retomar o caminho do crescimento que, já
se sabe, será difícil: a previsão otimista para 2016 é um crescimento do
PIB de 1%, devolvendo a queda que está prevista para este ano. Na
melhor das hipóteses, sairemos desses dois anos de reajustes no empate
de zero a zero, quando não no negativo.
Levy teve que voltar a
mostrar o fantasma do rebaixamento ontem. Lembrou que o Brasil "está
mais próximo dos bonds especulativos do que exatamente do investment
grade". Se não fizermos o ajuste fiscal, a ameaça volta "a galope",
advertiu.
O Ministro da Fazenda trata de coisas imediatas, como o
fim de incentivos tributários, mais especificamente o programa de
desoneração da folha de pagamento das empresas, que Levy chamou um dia
de "brincadeira que saiu cara". O custo anual de R$ 25 bilhões não deu
retorno na geração de emprego.
A redução dos benefícios
trabalhistas e previdenciários é considerada essencial pelo governo para
a realização do ajuste fiscal. Enquanto isso, a presidente Dilma se
defronta com um obstáculo sério no Congresso, que é o embate político da
regulamentação da terceirização.
O ex-presidente Lula está em
campanha pública para que ela vete as mudanças propostas, alegando que
elas precarizam o trabalho e retiram garantias trabalhistas, levando o
mercado de trabalho para a era pré-Vargas, cuja legislação Lula tanto
criticou em outros tempos. Os sindicatos estão em pé de guerra pelo
país.
Mas uma boa parte da base aliada quer regulamentar a
terceirização, como maneira de aumentar a produtividade da economia. O
PMDB está dividido, mas pressiona Dilma a se posicionar. O momento não é
de fazer bondades. Mas as maldades que são necessárias podem
desestabilizar de vez o governo.
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