JOSÉ CASADO O Globo -
Lava-Jato avança rumo a
Camex e Secretaria de Assuntos Internacionais da Fazenda. Desta vez, a
iniciativa não foi do Ministério Público, criticado nas últimas semanas
pelo formato da denúncia contra o ex-presidente Lula e da prisão do
ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Foi a Polícia Federal que
apresentou ao juiz Sérgio Moro o pedido de prisão de Antonio Palocci,
ex-ministro da Fazenda de Lula e chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff. O
detalhe é relevante porque sinaliza um nível inédito de cooperação
entre instituições encarregadas das investigações sobre corrupção.
Notável,
também, é a aparente quietude do empresário Marcelo Odebrecht. Preso há
15 meses, guardou silêncio diante dos policiais, porque seu pai,
Emílio, conduz negociações para um acordo com a Procuradoria em troca da
sua prisão domiciliar. No próximo dia 18, completa 48 anos. Até a
eventual homologação da colaboração com a Justiça, é incerto o tempo que
resta a Marcelo Odebrecht atrás das grades.
Ainda assim, foi
integral sua contribuição na prisão do ex-ministro Palocci, ontem. Ele
nada disse, segundo a polícia. Nem precisava, porque registrara nomes e
notas em arquivos eletrônicos.
Detalhes estavam na rede de
contabilidade paralela do grupo Odebrecht, que Marcelo organizou para
centralizar o controle dos pagamentos de subornos a agentes públicos no
Brasil e em países pelos quais espraiavam negócios de exportação,
subsidiados pelo BNDES.
Entre 2004 e 2013, as empreiteiras
brasileiras exportaram US$ 13 bilhões (R$ 42,9 bilhões). O grupo
Odebrecht foi responsável por 76% dessas vendas (US$ 9,8 bilhões,
equivalentes a R$ 32,3 bilhões). Ficou com 96% de todo o crédito público
dado às exportações de engenharia, via BNDES. Dessa montanha de
dinheiro eram extraídos os subornos nacionais e internacionais. Na era
Lula, quando o petróleo oscilou na faixa de US$ 100 por barril,
Odebrecht extraiu da Petrobras lucros de US$ 1 bilhão anuais. Em Angola e
Venezuela os negócios chegaram a render US$ 500 milhões (ou seja, R$
1,6 bilhão) por ano. Os dados já repassados pelo grupo privado à
Procuradoria sugerem que o bilionário “caixa” de Angola e Venezuela
viabilizou a escalada de subornos a governantes e partidos políticos
dentro e fora do Brasil, quase sempre pagos no exterior. Palocci, por
exemplo, foi preso sob a acusação de intermediar repasses ilegais de R$
128 milhões, o equivalente a US$ 38,7 milhões, já identificados.
Não
se sabe se por ele transitaram as maiores “gratificações” por serviços
ilícitos no Brasil. Os telefones de Marcelo registram, entre outros, um
“Amigo” brasileiro de US$ 23 milhões. Figuram, ainda,
empresários-satélites nas operações externas, como José Roberto
Colnaghi, da Asperbras, em negócios com os donos do poder em Angola (o
presidente José Eduardo Santos, o vice Manuel Vicente e os generais
Manuel Dias “Kopelipa”, Leopoldino Fragoso, Adriano Makevela, António
Faceira, Armando da Cruz Neto, Carlos Alberto Hendrick Vaal, João
Baptista de Matos e Luís Pereira Faceira).
É nítido, porém, o
avanço das investigações na direção da Câmara de Comércio Exterior
(Camex) e da Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da
Fazenda. Nelas estavam outros “amigos”, alguns deles com poder decisivo
sobre a liberação de créditos às exportações e serviços e sempre
prestativos no tráfico de informações privilegiadas.
EXTRAÍDADEAVARANDABLOGSPOT
0 comments:
Postar um comentário