Sandra Starling O Tempo
Em minhas andanças dos últimos tempos,
tenho ficado angustiada com o que observo estar acontecendo entre jovens
de classe média. Pertenci a uma geração em que as meninas não faziam
curso superior, quando muito estudavam pedagogia, e se preparavam para
ser mães de família. Fui exceção à regra porque sempre adorei estudar e
sempre trabalhei fora. (Até hoje estudo muito e ainda sofro pesadamente
por já estar aposentada. Gostaria de fazer ainda uma porção de coisas.
Mas ninguém quer dar um bom emprego a alguém de mais de 70 anos).
Pouco depois, isso mudou, e todos, rapazes e
moças, demandavam os cursos superiores e empregos bons. É claro que
estou me referindo aos de classe média: os pobres ficavam retidos nos
cursos elementares ou eram obrigados a aceitar o emprego que aparecesse,
sem qualquer qualificação mais sofisticada. E os ricos? Bem, os ricos
sempre têm direito a escolher. Agora vejo crescer um fenômeno
desconcertante e que não se restringe a este ou àquele país do mundo.
OS DOIS LADOS
De um lado, o desespero dos que querem
estudar e que, em busca de seu diploma de curso superior, aceitam bolsas
que vão ter de pagar depois de formados. Dia desses, encontrei uma
fluminense nessa situação: a jovem, já mãe de uma filha, casada, está
terminando sua tese de doutoramento ainda pagando o curso superior que
conseguiu fazer a duras penas. Escusado dizer que ela ainda acumula
todos os seus esforços com um emprego que lhe demanda muita atenção. Mas
ela ainda tem sorte, porque a maioria dos jovens pobres entre 18 e 25
anos são os que mais sofrem com o desemprego que se abate sobre as
sociedades, dominadas pela loucura do capital financeiro e dos
governantes que a ele servem. Então, você encontra legiões de
desesperados buscando qualquer “bico” para ganhar qualquer coisa e
sobreviver.
Doutro lado, um grupo grande de jovens de
classe média que nem querem estudar, nem querem trabalhar. São
denominados juventude “nem-nem”. Têm todas as condições para ir a boas
universidades e não conseguem se adaptar a nenhuma rotina de estudo. Têm
condições de obter um razoável emprego e optam por vagar por aí, sem
eira nem beira.
NEM ESTUDAM NEM TRABALHAM
Conheci uma jovem assim em Berlim.
Encantadora, fala mais de uma língua, se vira, como dizem eles, por
diversos lugares. Já morou na Argentina, passou pelo Brasil, frequentou a
universidade em Göttingen, na Alemanha, e com pouco tempo largou-a e
foi bater pernas no Laos, na Tailândia e no Vietnã. Agora, faz trabalhos
eventuais como garçonete em Berlim.
Estou também às voltas com um jovem que
está do mesmo jeito, matriculado numa boa universidade nos Estados
Unidos e que não quer fazer coisa alguma. Enquanto a mãe dá duro para
sustentá-lo e ao irmão, ele fica no lero-lero. E o avô pagando caro os
cursos em que ele toma bomba sistematicamente.
Conversei muito, recentemente, com os dois,
em separado. E fiquei chocada com o desencanto de ambos: não têm nenhum
ideal, não desejam coisa alguma, nada os move. O que pode explicar esse
desencanto?
EXTRAÍDADATRIBUNADAINTERNET
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