Coluna do Marcelo Madureira –Revista VEJA
O Brasil já perdeu muito tempo com o Lula e o lulismo. Uns 20 anos pelo menos. Imaginem o incrível salto para adiante que o país poderia ter dado se o Lula tivesse um miligrama de estadismo, preparo e entendimento da História. Além de herdar o Brasil “arrumado” do governo FHC, tinha cacife político para aprofundar as reformas estruturais que a Nação tanto precisa. Poderia, mercê da conjuntura internacional positiva, ter realizado grandes investimentos em Educação, Infraestrutura e Saúde. Poderia, enfim, ter entrado para a História pela porta da frente. Mas, como dizia o Barão de Itararé, o bisavô dos humoristas: “de onde menos se espera, é de lá que não sai nada mesmo”.
Lula preferiu chafurdar na lama do patrimonialismo, da demagogia, da incompetência e da desonestidade, e ninguém deveria se surpreender com isso.
Um breve exame da biografia do Lula (ou será prontuário?) não deixa a menor dúvida do que nos esperava ao dobrar a esquina.
Oriundo de família desfuncional, como tantas no Brasil, o problema do Lula não foi ter nascido pobre. Milhões de brasileiros nascem e morrem pobres.
Todo mundo enfrenta dificuldades na vida e, mesmo assim, incorpora valores morais e éticos, constrói uma família, trabalha, enfim, vive uma existência modesta mas digna. Dona Lindu, abandonada pelo marido alcoólatra, assoberbada na luta pela sobrevivência da prole, talvez não tenha conseguido arrumar nem tempo nem forças para edificar valores no seio do lar. Mas isso também não serve como desculpa para os desvios de conduta do Lula.
Afora o curso de torneiro no Senai, Lula nunca foi afeito ao aprendizado e muito menos ao trabalho. Perspicaz, percebeu na burocracia sindical uma possibilidade de escapar do estafante chão da fábrica.
Lula pode ser um homem ignorante, grosseiro até, mas de burro não tem nada. Apesar da inteligência inata, Lula desenvolveu um enorme complexo por sua ignorância formal e pela pobreza material. Por isso mesmo, Lula elegeu como objetivo de vida acabar com a pobreza. A sua, no caso. Aliás, nada contra isso, só discordo é dos métodos e caminhos escolhidos.
Lula abriga dentro de si um enorme ressentimento. Começa aí, talvez, o discurso do “eu contra eles”, que acabou virando depois “o nós contra eles”.
Esperto como o capeta, Lula se apropriou do “novo movimento sindical do ABC” que surgiu no fim dos anos 70, em contraposição ao pelego da ditadura, o notório Joaquinzão. No sindicato Lula conhece, gosta e cultiva com prazer as benesses do poder. E como gosta… Essa história está muito bem contada no livro O Que Sei de Lula, do jornalista José Neumanne Pinto, vale a pena ler. Logo em seguida, na esteira da criação do partido Solidariedade na Polônia por outro operário, Lech Walesa, funda-se o PT no Brasil.
Carismático, Lula teve um papel importante na organização das greves do ABC ao final dos anos setenta e era cortejado pelos partidos de esquerda (ainda na ilegalidade), inclusive pelo PCB onde eu militava. Astuto, Lula percebeu que, no recém-nascido PT, ainda com uma estrutura partidária frágil, seria mais fácil impor a sua liderança, que não admite concorrência. Assim, Luiz Inácio também se apropriou do PT sociedade com o seu comparsa, o Zé Dirceu. Lula se aboletou no PT, que virou uma farandola de várias tendências de esquerda, todas sem uma clara definição de tática ou estratégica, e de conteúdo ideológico raso, para não dizer ignorante, nas coisas do marxismo e nos problemas da realidade contemporânea, fenômeno comum na dita esquerda latino-americana. Mas uma coisa tinham em comum: não se entendiam uma com as outras.
Lula e seu amigo Zé fundaram mais uma tendência, o Campo Majoritário que, como o nome já diz, conquistou a hegemonia no partido. Em vez de Mimi – o metalúrgico do filme de Lina Wertmuller –, tínhamos o nosso Lula, o metalúrgico seduzindo os intelectuais, a Academia, os estudantes e, principalmente, a mulherada… O operário chegava ao Paraiso!
Militante do PCB, tomei conhecimento das primeiras greves na Scania, acompanhava as assembleias no estádio de Vila Euclides e, confesso, via com simpatia a sua liderança ao mesmo tempo em que desconfiava do seu radicalismo oportunista. Achava aquilo meio “jogo de cena”.
Nos tempos da ditadura, os partidos de esquerda, ainda na clandestinidade, se apropriaram de recursos gerados em seus braços legais, como sindicatos, entidades estudantis e movimentos populares. O PCB não era exceção, mesmo porque o Ouro de Moscou, que a União Soviética mandava – mandava, sim, senhor! – não era suficiente para bancar a luta revolucionária.
Não quero me justificar, mas havia a atenuante de que, na ditadura, eram partidos postos na ilegalidade, clandestinos, não havia outra forma de custear o seu funcionamento. O PT, mesmo na legalidade, levou essas “práticas políticas heterodoxas” às últimas consequências, já que, no socialismo, os fins justificam os meios… Isso se fortaleceu quando os petistas começaram a se eleger nas prefeituras e implantaram o lucrativo sistema em contratos de coleta de lixo e assemelhados, drenando o dinheiro público para fortalecer o partido, além do que, claro, sempre sobra algum qualquer para o uísque e o charuto da companheirada.
Ah!!! O Poder!!! E como tem dinheiro no poder!
O PT mafioso foi se fortalecendo em governos estaduais, comissões parlamentares (com trocadilho) e quetais e quitandas. E ai de quem fosse contrário às diretrizes partidárias! Não estão mais aí o ex-prefeito Celso Daniel e o Toninho de Campinas para provar o que escrevo.
Quando, finalmente, o PT com Lula conquistou o poder federal, então foi o Céu na Terra!
Mas a roda da História gira e hoje a carroça petista, atolada em contradições, mal se arrasta levando consigo o Brasil.
Lula, que não quer largar o osso, aprofundou sua personalidade raivosa, acusa as elites às quais ele mesmo pertence. Cada vez mais o mundo de Lula se transforma no eu contra o resto. Para permanecer no poder Lula, não hesita em arremessar um brasileiro contra o outro. Para Lula, só poder interessa, o poder traz segurança, bem-estar e benquerença. Para ele, é claro. E Lula adora ser adulado. Lula precisa estra cercado de áulicos e puxa-sacos, os quais não vacila em sacrificar em função de seus interesses mais mesquinhos. Lula virou uma espécie de Stalin do PT, partido que hoje ele está a ponto de renegar. Este mesmo PT que Lula ajudou a transformar num partido de funcionários públicos medíocres, cujo entendimento do Estado é como um meio de vida parasitária. Este mesmo PT que no jogo político não tem adversários, mas inimigos que devem ser obliterados.
Lula nunca foi nem nunca será um estadista. Lula jamais pensou em transformar a realidade do país nem em projetar o futuro do Brasil. Ele só se interessa em mudar uma realidade, a dele.
E tenho dito.
EXTRAÍDADEAVERDADESUFOCADA
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