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08:29
ANDRADEJRJOR
MURILLO DE ARAGÃO O ESTADO DE SÃO PAULO
Por causa dos graves
escândalos de desvio de dinheiro recentes o PT anunciou que não vai mais
aceitar doação de fontes privadas. A medida tenta dar uma resposta
inadequada e superficial a um problema importantíssimo: como financiar a
política e as eleições no País? Quase que simultaneamente à decisão do
PT de abrir mão de verbas privadas, num movimento de absoluta
insensibilidade, o Congresso triplicou a verba para o Fundo Partidário
prevista no Orçamento da União de 2015, passando-a de R$ 289,56 milhões
para R$ 867,56 milhões! Claramente para ajudar os combalidos cofres dos
partidos pela campanha eleitoral passada. Banir recursos privados ou
aumentar dotações dos fundos partidários não são soluções adequadas. Um
solução definitiva deve ser encontrada.
Uma corrente deseja
eliminar inteiramente o recebimento de dinheiro de empresas nas eleições
e limitar as doações a cidadãos e recursos públicos. Já outros acham
que só deveria existir financiamento público. Outros ainda, como eu,
defendem o financiamento cidadão: só pessoas físicas poderiam financiar
partidos e campanhas eleitorais. Reconheço que no atual estágio ter
apenas dinheiro de pessoas físicas financiando campanhas e partidos é
utópico.
A solução adequada para o momento não se deve resumir à
escolha entre financiamento público ou privado de campanha. O
financiamento público deve ser limitado ao mínimo necessário para
partidos funcionarem e custear parcelas complementares das despesas de
campanhas eleitorais. Como, por exemplo, o tempo de TV, que já é dado
gratuitamente aos partidos. A melhor solução é a que faça os partidos
buscarem na cidadania os recursos de que necessitam para concorrer aos
pleitos eleitorais. Quanto mais os partidos ficarem perto da abundância
das verbas públicas, mais distante ficarão dos militantes e
simpatizantes. Temos, sim, de provocar a participação da cidadania e
apoiar e financiar as campanhas eleitorais. Também não podemos admitir
que elas custem R$ 5 bilhões, valor aproximado gasto no pleito de 2014.
Isso é inadmissível num país que ainda está em 79.º lugar entre 187
nações no ranking do IDH! E também é antidemocrático permitir que nossas
eleições se transformem em corridas do bilhão, dando mais chances a
quem tem mais recursos para gastar.
Com as corridas do bilhão
surge a grave questão que nos assombra: a relação que se estabelece
entre doadores, partidos e candidatos. Os escândalos do mensalão e do
petrolão são suficientes para explicar o que e como ocorre. Mas não é
difícil resolver esse problema. São necessárias medidas relativamente
simples, mas que demandam coragem cívica. É hora de implementá-las, sob
pena de comprometermos nossa nascente democracia de forma irreparável
por décadas. Vejamos quais são essas medidas.
A primeira é
estabelecer o teto de gastos. As campanhas presidenciais devem ter um
teto de despesas de R$ 100 milhões, que é mais que suficiente. O limite
proposto é superior ou igual aos volumes utilizados em campanhas
presidenciais em economias mais ricas que a nossa. Para tal as campanhas
devem ser mais curtas, com não mais que 45 dias, e o tempo de TV -
computado como recurso público destinado às campanhas - deve ser
considerado no limite dos gastos. O teto de gastos deve ser estabelecido
em lei e atualizado pela Justiça Eleitoral anualmente, a partir de
algum índice de correção. As campanhas para governador, senador,
deputado federal e estadual, prefeito e vereador também devem ter
limites fixados na lei de acordo com a população de Estados e
municípios. Evidentemente, devem ficar bem abaixo do teto de gastos para
presidente.
A segunda medida é fixar um limite específico para
doações de pessoas físicas e jurídicas. Por exemplo, R$ 10 mil por
pessoa física e R$ 50 mil por pessoa jurídica, tomando a identificação
na Receita Federal como base. Assim se encerra definitivamente o ciclo
de doações milionárias. Deve haver também um limite para autodoações, a
fim de impedir que ricos e abonados obtenham vantagens indevidas.
A
terceira é proibir o uso de recursos do Fundo Partidário para as
eleições. Os fundos partidários existem para manter as legendas e
divulgar seus programas e opiniões. Ademais, os recursos devem ser
dramaticamente reduzidos. Os valores hoje são indecentes. Impedir o uso
de fundos partidários nas eleições se justifica porque muitas doações
eleitorais de empresas são disfarçadas em doações para partidos pouco
antes do início dos pleitos. E é muito fácil comprovar o que afirmo.
Assim, como decorrência, as doações a partidos fora do âmbito eleitoral
também devem ser limitadas aos valores mencionados por ano fiscal.
Por
fim, proponho que as verbas dos fundos partidários e das campanhas
eleitorais sejam auditadas e fiscalizadas pelo Tribunal de Contas da
União (TCU). Ademais das competências constitucionais da Justiça
Eleitoral, que deve ser robustecida, o TCU deveria ser empregado no que
tange ao uso de recursos públicos e privados nas campanhas eleitorais,
fazendo o trabalho contábil de checagem de valores e gastos.
Com
as quatro medidas que preconizo as eleições no Brasil seriam mais limpas
e justas e a relação entre a cidadania, as empresas e o mundo político,
mais transparente e saudável. Precisamos ter partidos e políticos
dependentes da cidadania, não do Tesouro, e o caixa 2 deve ser
severamente combatido. O debate sobre o financiamento de campanhas e
partidos deve ter como meta trazer a política para dentro da sociedade e
estimular o engajamento da cidadania nas campanhas. Seria mais do que
desejável ver candidatos baterem na porta das pessoas para pedir
recursos para suas campanhas e terem de fazer por merecer o suado
dinheiro da cidadania. Assim como será altamente democrático ter
campanhas em que o abuso do poder econômico, bem como o uso de máquinas
públicas, sindicais e empresariais sejam limitados.
extraídadeavarandablogspot
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