por Gustavo Patu Folha de São Paulo
Acreditar, como quer a presidente Dilma Rousseff, que a vertiginosa
sucessão de prisões e delações ligadas à Petrobras vai "mudar o Brasil
para sempre" equivale a torcer, como se fez na Copa, por uma
reformulação definitiva do futebol nacional após a goleada vexatória
sofrida da Alemanha.
Reviravoltas nos hábitos políticos e sociais (incluindo os
futebolísticos) são raras, mesmo nos escândalos cuja gravidade sobrevive
ao alarido inicial. E não foram poucos: só no período após o
restabelecimento da democracia, houve o afastamento de Collor, os anões
do Orçamento, a compra de votos em favor da reeleição, o mensalão e seus
parentes.
Não é que os episódios não tenham impulsionado mudanças ao longo do
período –mas os avanços são parte de um processo lento, nem sempre
contínuo, cujos resultados ainda são controversos.
São candidatos à lista a ampliação do alcance do Ministério Público, a
Controladoria-Geral da União, as operações da Polícia Federal, a Lei da
Ficha Limpa, as condenações de autoridades ao encarceramento.
A despeito do aprimoramento institucional, a descoberta e a investigação
dos desmandos continuam associadas a conflitos de facções na arena
partidária e no aparelho estatal.
O impeachment começou com um irmão magoado, e o mensalão foi denunciado
por um deputado aliado sob ameaça. O governo FHC reclamava de
procuradores da República que, de fato, se tornaram menos atuantes nos
governos do PT; agora, o ministro da Justiça quer investigar possíveis
inclinações tucanas entre delegados da Operação Lava Jato.
Desde Vargas, a esquerda acusa a direita de explorar casos reais e
imaginários de corrupção para chegar ao poder, a mesma queixa que
governos passados faziam do PT oposicionista. No eleitorado, subsiste
boa dose de tolerância às malfeitorias; no debate político, indignação e
complacência se alternam conforme o réu.
FONTE ROTA2014
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