ANDRÉBURGER/INSTITUTOLIBERAL
A Argentina tem uma história paralela à do Brasil. Muitas vezes, movimentos políticos do país vizinho apenas mais tarde ocorreram por aqui. Assim foi com a independência da Espanha em 1810, quando a do Brasil de Portugal foi somente em 1822. Outro marco importante: a escravidão foi abolida na Argentina em 1856; no Brasil, apenas em 1888. Sob vários aspectos, a Argentina se modernizou antes, incluindo aí indústrias e infraestrutura. Como exemplo, a Argentina chegou a ter uma malha ferroviária de 47 mil km em 1920, quando a do Brasil atingiu seu auge em 1950 com 37 mil km.
Faço esses comentários para embasar o pensamento de que seria magnífico se também seguíssemos o exemplo atual da Argentina e viéssemos a abraçar o liberalismo e o anarcocapitalismo de Javier Milei.
O que Milei realizou, em apenas um ano, a partir de um país quebrado, desacreditado internacionalmente e com inflação altíssima, é sui generis. A transformação de um estado altamente intervencionista para um estado que se encaminha para o mínimo é invejável para qualquer estadista que defenda o liberalismo como doutrina política. Milei teve coragem para mudar o estado argentino por dentro, reduzindo o número de ministérios, de empresas públicas, seja por privatização ou simples fechamento e a determinação de não emitir moeda para reduzir a inflação.
São as seguintes suas principais realizações:
* Redução de 18 ministérios para 8.
* Redução de 36 mil funcionários públicos federais de um total de 338 mil.
* Abertura comercial.
* Eliminação de impostos de importação.
* Superávit fiscal, governo gastando menos do que arrecada.
* Menor inflação em 3 anos.
* Redução do risco país.
* Desregulamentação da economia.
* Redução da criminalidade.
* Aumento do investimento estrangeiro.
* Fim de monopólios como os correios, a aviação, o petróleo e seus derivados.
* Fim de todos os controles de preços e intervenções no mercado.
* Fim de subsídios para qualquer setor econômico e para a cultura.
* Venda de mais de 400 propriedades do estado argentino, resultando em receita de U$800 milhões.
Recomendo a visita ao site www.argentina.gob.ar/bitacora para uma relação completa do que foi feito.
Para que o Brasil trilhe um caminho semelhante, temos que entender quais fatores foram determinantes para que isso tenha acontecido por lá.
Foi resultado de uma situação de contínua ineficiência dos governos anteriores?
Ou foi resultado de anos de formação de pessoas nas boas teorias políticas e econômicas, e elas estavam aptas e disponíveis quando a situação se apresentou?
Como não há vácuo em política, a falta de respostas adequadas dos personagens políticos tradicionais da Argentina permitiu o surgimento de Milei e o movimento La Libertad Avanza (LLA).
Será que o Brasil precisa se aproximar do caos para que surjam circunstâncias semelhantes? Minha impressão é que não temos a mesma paixão e extremismos que existem por lá. A música é o tango e não o samba. O ambiente político e social é mais complacente. Mesmo nossos ditadores, sejam Floriano Peixoto, Getúlio Vargas ou os militares de 1964, foram menos abomináveis se comparados aos argentinos Rosas, Uriburo e os militares de lá. No Brasil, foram identificadas 434 pessoas entre mortas ou desaparecidas na ditadura militar. Na Argentina, superou 9 mil.
Eventualmente, nossa diversidade do espectro político e pulverização populacional não permita o surgimento de um Milei tupiniquim. Talvez Bolsonaro, um estatista arrependido, tenha sido o mais próximo que chegaremos de um presidente pró-liberalismo. Aqui me parece mais difícil criar e impulsionar um LLA, pois são 27 partidos políticos com representação na Câmara e no Senado, enquanto, na Argentina, apenas 7, apesar de terem 710 partidos políticos registrados e nós 35, absoluto recorde mundial. Soma-se a isso a concentração populacional em torno de Buenos Aires com quase 40% da população do país, enquanto a Grande São Paulo, para comparar, representa menos de 10% da população brasileira.
De qualquer forma, seria muito bom que o presumível desastre econômico de Lula nos encaminhasse para um governo que minimamente incorpore as ideias de Milei, mesmo que em ritmo de samba e não do tango.
*André Burger é economista e conselheiro superior do Instituto Liberal.
PUBLICADAEMhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/politica/quero-ser-voce-amanha/
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