Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

AS DUAS DILMAS

carlos chagas - tribuna da imprensa on line

Da existência de dois Brasís, o dos ricos e o dos pobres, ninguém duvida desde Pedro Álvares Cabral. O inusitado,  agora, é reconhecermos também a realidade de duas  Dilmas. Não deixam  dúvidas seus pronunciamentos no Congresso e no parlatório do palácio do Planalto,  ao tomar posse pela segunda vez. A presidente declarou: “nenhum direito a menos! Nenhum passo   atrás!” Referia-se à legislação  trabalhista.
Ora  bolas! Dois dias antes ela  havia enviado Medida Provisória ao Legislativo, cortando pela metade o abono salarial,  o seguro-desemprego, o auxílio-doença, as pensões por morte do cônjuge e até os benefícios aos pescadores impedidos de pescar. Qual das duas Dilmas será a verdadeira?
O processo de redução das prerrogativas sociais foi iniciado faz muito, nos idos de 1964, prolongando-se até o momento em que, imaginávamos, seria estancado, com a ascensão do governo dos trabalhadores. Presumia-se, até, o restabelecimento de alguns direitos trabalhistas, como a estabilidade no emprego.
Adianta pouco ou nada constatar que as supressões acima citadas estão  longe de significar meros ajustes e eliminação  de  excessos, como quer o governo.  Foi supressão mesmo, ou seja, abre-se outra vez o saco de maldades. Só que Dilma, depois de suprimir, tripudia: “Nenhum direito a menos!” “Nenhum passo atrás!”  Quem garante?
O grotesco  nessa farsa está no silêncio da CUT e do PT.  Nenhuma voz sindical ou partidária foi ouvida daqueles que tinham por obrigação defender o trabalhador. Por ironia, foram os tucanos a protestar, eles que nos tempos de Fernando Henrique  Cardoso fartaram-se de reduzir direitos sociais. A conclusão é de estar abandonada a classe operária, precisamente pelos que deveriam guardá-la.
Múltiplas contradições podem ser pinçadas no discurso da presidente da República, ficando a impressão de ser outro o país que ela governa.  O que será, na concepção dela, o “menor sacrifício possível” a ser exigido pelo ajuste fiscal que vem por ai?
O VELHO  E  O  NOVO
Apenas a partir desta segunda-feira os   agora ex-ministros transmitirão  os cargos aos novos, já  empossados mas ainda sem coragem  para assumir. Seguindo o exemplo da presidente Dilma, os integrantes do governo do segundo mandato ampliaram desde ontem o fim de semana.  Poucos permaneceram em Brasília.

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