carlos chagas - tribuna da imprensa on line
Da existência de dois Brasís, o dos ricos e o dos
pobres, ninguém duvida desde Pedro Álvares Cabral. O inusitado, agora, é
reconhecermos também a realidade de duas Dilmas. Não deixam dúvidas
seus pronunciamentos no Congresso e no parlatório do palácio do
Planalto, ao tomar posse pela segunda vez. A presidente declarou:
“nenhum direito a menos! Nenhum passo atrás!” Referia-se à legislação
trabalhista.
Ora bolas! Dois dias antes ela havia enviado Medida Provisória ao
Legislativo, cortando pela metade o abono salarial, o
seguro-desemprego, o auxílio-doença, as pensões por morte do cônjuge e
até os benefícios aos pescadores impedidos de pescar. Qual das duas
Dilmas será a verdadeira?
O processo de redução das prerrogativas sociais foi iniciado faz
muito, nos idos de 1964, prolongando-se até o momento em que,
imaginávamos, seria estancado, com a ascensão do governo dos
trabalhadores. Presumia-se, até, o restabelecimento de alguns direitos
trabalhistas, como a estabilidade no emprego.
Adianta pouco ou nada constatar que as supressões acima citadas estão
longe de significar meros ajustes e eliminação de excessos, como
quer o governo. Foi supressão mesmo, ou seja, abre-se outra vez o saco
de maldades. Só que Dilma, depois de suprimir, tripudia: “Nenhum direito
a menos!” “Nenhum passo atrás!” Quem garante?
O grotesco nessa farsa está no silêncio da CUT e do PT. Nenhuma voz
sindical ou partidária foi ouvida daqueles que tinham por obrigação
defender o trabalhador. Por ironia, foram os tucanos a protestar, eles
que nos tempos de Fernando Henrique Cardoso fartaram-se de reduzir
direitos sociais. A conclusão é de estar abandonada a classe operária,
precisamente pelos que deveriam guardá-la.
Múltiplas contradições podem ser pinçadas no discurso da presidente
da República, ficando a impressão de ser outro o país que ela governa. O
que será, na concepção dela, o “menor sacrifício possível” a ser
exigido pelo ajuste fiscal que vem por ai?
O VELHO E O NOVO
Apenas a partir desta segunda-feira os agora ex-ministros
transmitirão os cargos aos novos, já empossados mas ainda sem coragem
para assumir. Seguindo o exemplo da presidente Dilma, os integrantes do
governo do segundo mandato ampliaram desde ontem o fim de semana.
Poucos permaneceram em Brasília.
0 comments:
Postar um comentário