Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Doações da Friboi já chegam a 18,5% dos empréstimos com BNDES

Leandro Prazeres UOL, em Brasília

A JBS, maior exportadora de carne bovina do mundo e dona da marca Friboi, doou a políticos e partidos 18,5% de tudo o que tomou emprestado do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) entre 2005 e 2014. Em 2014, a JBS doou R$ 366,8 milhões. PT, PMDB e PSDB foram os partidos mais beneficiados.
De acordo com o banco, o grupo tomou R$ 2,5 bilhões emprestados entre 2005 e 2014 — os empréstimos foram liberados para operações como financiamento de exportações e compra de equipamentos. Desde que os recursos começaram a ser liberados, em 2005, a JBS já repassou R$ 463,4 milhões a políticos e partidos nas eleições de 2006, 2008, 2010 e 2014.
O Grupo JBS faturou em vendas R$ 92 bilhões em 2013 (últimos dados disponíveis). Desde 2006, o grupo figura entre um dos maiores doadores individuais de campanhas políticas do Brasil. Em 2010, a JBS ficou em terceiro lugar, com R$ 63 milhões. Em 2014, a JBS foi a maior doadora, seguida da construtora Odebrecht , que doou R$ 111 milhões, e do Bradesco, com doações de R$ 100 milhões.
DOAÇÕES EM ALTA
Em 2006, um ano após o início dos empréstimos, foram R$ 12 milhões em doações. Quatro anos depois, foram R$ 63 milhões, e, em 2014, R$ 366,8 milhões, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O comprometimento da JBS com doações a políticos é tão grande que, somente para a eleição de 2014, a empresa doou 39,56% de todo o seu lucro líquido registrado em 2013, que foi de R$ 926,9 milhões. É como se, a cada R$ 100 de lucro, a JBS doasse R$ 39,5 para os caixas de campanhas de partidos e candidatos.
Para efeito de comparação, a Odebrecht, segunda colocada no ranking de doações neste ano, doou 22% de seu lucro líquido em 2013, que foi de R$ R$ 490,7 milhões. O Bradesco, terceiro colocado, doou apenas 0,83% de seu lucro líquido em 2013, que foi de R$ 12 bilhões. O lucro líquido é a diferença entre o que a empresa faturou e os seus custos operacionais (salários, tributos, impostos, etc).
“INVESTIMENTOS”
Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que, no Brasil, as doações para campanhas são “investimentos” feitos pelas empresas para conseguir vantagens junto aos governos.
As elevadas doações feitas a políticos e partidos chamam atenção pela estreita relação que o grupo manteve com o BNDES, controlado pelo governo do PT desde 2003.
Em 2014, por exemplo, o PT foi o grande beneficiário das doações da empresa, com R$ 114,6 milhões, seguido pelo PMDB, com R$ 62,6 milhões, e pelo PSDB, com R$ 56,7 milhões. Em 2010, o PT também liderou as doações da JBS, com R$ 13 milhões.
Foi na gestão petista que o BNDES emprestou R$ 2,5 bilhões (diretamente ou por meio de outros bancos) à JBS. Também foi na gestão petista que o BNDES investiu outros R$ 8,5 bilhões em operações de capitalização por meio da compra de ações do grupo. Hoje, o BNDES é dono de 24,6% do capital do Grupo JBS.
“NATUREZA TÉCNICA”
A suspeita de que parte do dinheiro emprestado pelo BNDES tenha sido destinada a políticos é descartada pelo BNDES. Procurado pelo UOL, o banco informou que os critérios adotados para a concessão de empréstimo à JBS foram “impessoais e de natureza técnica”.
O BNDES disse ainda, por meio de sua assessoria de imprensa, que monitora como as empresas que recebem empréstimos investem o dinheiro e que equipes do banco fazem “visitas regulares ao empreendimento, conferindo o andamento do cronograma e a origem e especificação dos equipamentos adquiridos para o projeto”.
Questionada sobre a natureza do relacionamento entre o PT e a JBS, a assessoria de imprensa da campanha à reeleição de Dilma Rousseff (PT) enviou nota dizendo que “todas as doações feitas ao comitê de campanha da candidata Dilma Rousseff têm cumprido rigorosamente o que determina a legislação eleitoral, sendo tratadas com absoluta transparência e declaradas ao TSE”.
O grupo JBS, por sua vez, negou qualquer relação entre as doações feitas por empresas do grupo e os empréstimos tomados junto ao BNDES.
(reportagem enviada por Celso Serra)

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