editorial do Estadão
Qualquer pessoa que saiba somar dois mais dois sabe que o escândalo da
Petrobrás tem raízes eminentemente políticas. O enorme esquema de
propinas que tomou de assalto e jogou na sarjeta a reputação da maior
empresa estatal do País foi urdido com o objetivo de socorrer as
finanças do PT e de seus aliados no cada vez mais dispendioso processo
eleitoral brasileiro. Pois é exatamente isso que confirmam mais dois
depoimentos divulgados esta semana no âmbito da Operação Lava Jato.
Os defensores de dois investigados que estão presos em Curitiba, o
empresário Gerson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix
Engenharia, e o advogado do doleiro Alberto Youssef, Antonio Figueiredo
Basto, respectivamente em documento encaminhado à Justiça Federal e em
entrevista ao jornal Valor, atribuíram a responsabilidade pelo esquema
de corrupção na petroleira ao PT e a seu projeto de perpetuação no
poder. E o primeiro estendeu-se em considerações que procuram demonstrar
que as empreiteiras investigadas são meras "vítimas" de "achaques" dos
políticos.
O documento dos advogados de Mello Almada discorre longamente sobre a
"ligação intrínseca" entre a necessidade de o PT "compor-se com
políticos de outros partidos" por meio da distribuição de "cargos na
administração pública" e também de "recursos a parlamentares". E
acrescenta: "O custo alto das campanhas eleitorais levou, também, à
arrecadação de dinheiro para as tesourarias dos partidos políticos". E
conclui que "não por coincidência, a antes lucrativa sociedade por
ações, Petrobrás, foi escolhida para a geração desses montantes
necessários à compra da base aliada do governo e aos cofres das
agremiações partidárias".
O advogado de Alberto Youssef desenvolveu o mesmo argumento: "A
participação dos políticos e dos agentes públicos foi fundamental no
esquema", que foi concebido "para a manutenção de grupos e partidos no
poder". E mais: "O esquema alterou os resultados das eleições de 2006,
2010 e, possivelmente, de 2014".
O Valor revela ainda que outro empresário preso e beneficiado por
delação premiada, Augusto Mendonça Neto, da Setal, confessou que entre
os anos de 2008 e 2011 pagou propina ao PT na forma de doações para
campanha, no total de cerca de R$ 4 milhões. Esses pagamentos foram
feitos por intermédio de outro personagem da Lava Jato, Renato Duque,
ex-diretor de Serviços da Petrobrás, cargo para o qual foi indicado pelo
notório José Dirceu.
As revelações do doleiro Youssef, feitas nos termos de acordo de delação
premiada, bem como as dos empresários da Engevix e da Setal, não trazem
nenhuma novidade ao cenário do maior escândalo de corrupção da história
da República. Apenas confirmam e reforçam a evidência de que se trata
de mais uma investida do PT, depois do ensaio geral representado pelo
mensalão, para comprar aliados e financiar seu projeto de poder.
É importante atentar, no entanto, para a maliciosa tentativa das
empreiteiras de eximir-se de responsabilidade pelo esquema de corrupção
na Petrobrás, colocando-se na posição de "vítimas de achaques". O
argumento é um primor de cinismo. Sustenta que a chantagem dos
operadores do esquema "colocou os empresários, todos, na mesma situação,
não por vontade, não por intenção, mas por contingência dos fatos". Mas
as empreiteiras não são vítimas do esquema. São cúmplices.
Pode-se até admitir, no limite da benevolência, que nenhuma delas, em
tempo algum, tenha tomado a iniciativa de propor negócios escusos a
executivos da Petrobrás, ou de qualquer outra estatal contratante de
obras. Mas, diante da imposição de um trambique feita por um delinquente
do coturno de Paulo Roberto Costa, as empreiteiras tinham a opção de
denunciar o crime, recomendação que seria tranquilamente feita por
qualquer assessoria séria de compliance. Preferiram unir-se, no entanto,
para formar um clube que garantisse que nenhum dos membros da torpe
sociedade levasse vantagem na distribuição dos contratos. Armaram,
docemente constrangidos, a "contingência dos fatos" dos quais agora
tentam sem o menor pudor se eximir. Não vão escapar tão fácil, como já
se viu no julgamento do mensalão.
fonte rota2014
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