EDITORIAL O Globo
Ex-ministro Gilberto Carvalho acusa empreiteiras de corruptoras,
e, com isso, pode estimular executivos a assinar acordos de delação
premiada
O ex-ministro Gilberto Carvalho, o que na despedida do cargo de
secretário-chefe da Presidência da República saiu-se com o brado “não
somos ladrões!”, aproveitou uma reunião fechada com militantes,
assistida pelo GLOBO, para desenvolver rebuscada tese inspirada na mais
fina teoria conspiratória, a fim de explicar o petrolão.
Para
Carvalho, conhecido no PT pelas ligações com os chamados “movimentos
sociais”, haveria uma “central de inteligência” a serviço de interesses
obscuros, para levar petistas às “barras dos tribunais”. Um exemplo
citado pelo ex-ministro foi o noticiário das investigações em curso na
Justiça sobre o possível uso de uma empresa do ex-ministro José Dirceu
para a captação de dinheiro de propina cobrada a empreiteiras que
prestam serviços à Petrobras.
Esperemos o resultado das investigações. Mas cabe o registro de que
Dirceu já foi levado “às barras dos tribunais”, o Supremo, e condenado
como mensaleiro, num julgamento em que exerceu todo o direito
constitucional de defesa. E cumpre prisão em regime semiaberto. O devido
processo legal foi respeitado à risca, sem qualquer sanha —
condenatória ou absolutória.
No entendimento maniqueista do ex-ministro, os altos funcionários da
Petrobras foram vítimas de empreiteiras corruptoras, atuando em cartel.
Mas uma curiosidade nisso tudo é que o outro lado, as empresas, detalha,
com seus advogados, enredo oposto: a Petrobras, pelo cacife financeiro
que tem, é que teria induzido a formação do cartel.
Na verdade, nenhuma das teses se sustenta isoladamente, e os dois
lados no escândalo precisam ser responsabilizados pelo assalto à
Petrobras.
A ideia de que honestos diretores da estatal
terminaram vítimas do feitiço corruptor de malévolas empreiteiras é
ilusória. O apadrinhamento político-partidário de diretores como Paulo
Roberto Costa (PP), Nestor Cerveró (PMDB), Renato Duque (PT) e até do
ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli (PT) já prova a
interferência de outros interesses nas decisões de investimento da
companhia. A cobrança e o pagamento de propinas para partidos e
políticos já deixaram há tempos de ser ilações, pois constam, pelo
menos, da delação premiada do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto
Costa.
A tese de Gilberto Carvalho reforça a tentativa petista de jogar a
responsabilidade do escândalo sobre empreiteiros. É um tiro pela culatra
porque, sentido-se ameaçados, executivos das empresas podem ser
incentivados a assinar acordos de delação, para se beneficiar de penas
atenuadas e escapar dessa manobra. Assim, o petrolão seria desvendado de
forma mais rápida.
Na verdade, esta é uma história em que não há mocinhos. Daí a
necessidade de as punições serem generalizadas, nas diversas esferas
judiciais e administrativas.
FONTE AVERDADESUFOCADA
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