editorial do Estadão
Faz tempo que estão no terreno das fábulas as tentativas petistas de
desvincular a imagem do partido dos sucessivos escândalos nos quais
diversos potentados da legenda se envolveram até a medula, na última
década. Contra todas as evidências, essas versões zombam da inteligência
alheia quando atribuem as bandalheiras a conspirações de entidades
diabólicas como "a mídia" e "os rentistas", todos, claro, inimigos do
"povo" - aquele que os líderes do PT julgam encarnar.
Mas, como a provar que a capacidade petista de fantasiar não tem
limites, o ex-ministro Gilberto Carvalho conseguiu criar uma versão que
deixaria constrangida até a criativa boneca Emília - personagem de
Monteiro Lobato que, quando tinha de justificar suas travessuras, abria a
"torneirinha de asneiras".
Segundo Carvalho disse a militantes do PT, em uma reunião testemunhada
pelo jornal O Globo, as diversas evidências de que o monumental esquema
de corrupção na Petrobrás foi urdido para abastecer os cofres do partido
e de outras legendas governistas não passam de uma tentativa de
criminalizar os petistas com vista a prejudicar a candidatura de Luiz
Inácio Lula da Silva à Presidência em 2018.
Em sua cândida versão, esse complô serve para esconder o fato de que os
verdadeiros protagonistas do escândalo da Petrobrás não são os petistas
nem os funcionários da estatal que serviram ao esquema, e sim as grandes
empreiteiras.
O despudorado desvio de dinheiro para os partidos que lotearam a
Petrobrás - chamado singelamente por Carvalho de "contribuição política"
- não passa de um "pequeno capítulo do grande crime que é todo o
processo do acerto entre as empresas que fazem seu cartel, como fizeram
no Metrô de São Paulo e fazem na Petrobrás". Assim, os únicos criminosos
no caso são as "empresas que se unem e corrompem funcionários de uma
estatal para auferir lucros, fazer lavagem de dinheiro".
Para entender o que quer Gilbertinho, como Lula o chama carinhosamente, é
preciso lembrar que o ex-ministro nunca fala por si, pois sempre foi
porta-voz do ex-presidente. Portanto, é Lula quem se manifesta quando
Carvalho fabula - razão pela qual tudo deve ser visto na perspectiva da
eleição presidencial de 2018, pois, como se sabe, a única coisa que
importa para o PT e para Lula é a manutenção do poder.
A estratégia é atribuir a "criminalização" do PT aos interessados em
eximir os empreiteiros e em enxovalhar dirigentes petistas com o
objetivo de atingir a candidatura de Lula. Com o conhecimento de quem
integra um partido que se especializou em destruir reputações, Carvalho
denunciou a existência de um plano concreto da oposição para esse fim.
"Tem uma central de inteligência disposta a fazer o ataque definitivo ao
PT e ao nosso projeto popular", disse Carvalho aos militantes, acusando
os conspiradores de pretender indispor o partido com a classe média.
"Não vamos subestimar a capacidade deles para nos criminalizar, nos
identificar com o roubo, para nos chamar de ladrões." Para o
ex-ministro, a intenção "deles" é isolar o PT e "inviabilizar a
candidatura do Lula, seja judicialmente, seja politicamente".
Carvalho disse que faz parte da operação que visa a levar o PT para "as
barras dos tribunais" a recente inclusão do ex-ministro José Dirceu nas
investigações da Operação Lava Jato. O petista, que cumpre pena por ter
protagonizado o caso do mensalão, recebeu pagamentos de empreiteiras
envolvidas no escândalo da Petrobrás em troca de "consultoria". Para
Carvalho, "o envolvimento do Zé agora, de novo, é tudo na mesma
perspectiva", isto é, tem o objetivo de colocar "na cabeça do povo" que
"a corrupção nasce conosco e, por isso, não temos condição de continuar
governando o País".
Considerando que a derrota do partido seria a derrota "dos mais pobres,
dos excluídos" - o que dá a exata dimensão da arrogância lulopetista -, a
palavra de ordem de Lula, vocalizada por Carvalho para a tigrada, é
"não baixar a cabeça" e não se "acadelar" - senha inequívoca para partir
para o ataque, usando as armas que os petistas manejam muito bem.
Afinal, como não se cansa de afirmar o nosso personagem, "nós não somos
ladrões".
fonte rota2014
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