editorial do Estadão
Em dezembro, o site do PT enfatizou a importância do Fundo de
Financiamento Estudantil (Fies), lembrando que o primeiro governo de
Dilma Rousseff firmou 1,12 milhão de contratos. O fundo concede
empréstimos com juros favorecidos a alunos de universidades particulares
e confessionais. Na mesma página, o site do PT também teceu loas ao
Programa Universidade para Todos (ProUni), lembrando que, em seu
primeiro mandato, Dilma concedeu 1,2 milhão de bolsas.
Três semanas depois, pressionado pela necessidade de conter a dívida
pública e reequilibrar o Orçamento, o governo mudou sem anúncio prévio
as regras do Fies e do ProUni - programas que, ao lado do Ciência sem
Fronteiras, foram bandeiras da campanha de Dilma pela reeleição. O Fies e
o ProUni foram instituídos por lei, mas como as mudanças em suas regras
foram impostas por meio de portarias, a Federação Nacional das Escolas
Particulares questionou judicialmente a legalidade das alterações.
Esse é mais um exemplo das trapalhadas de um governo incapaz de garantir
a continuidade em suas iniciativas. Entre outras alterações, promovidas
sem qualquer justificativa pedagógica, o Ministério da Educação passou a
exigir dos candidatos a bolsa e a financiamento a média de 450 pontos
no Enem.
As mudanças pegaram de surpresa os estudantes às vésperas dos
vestibulares e do prazo de inscrição no ProUni - além de terem deixado
em posição delicada os responsáveis pelo site do PT. Também
desorganizaram o planejamento das universidades particulares e
confessionais, que detêm 70% das vagas do ensino superior. Estimuladas a
se expandir no primeiro mandato de Dilma, elas terão de amargar queda
no fluxo de pagamentos dos contratos e bolsas, por causa das novas
regras do Fies e do ProUni. No primeiro mandato de Dilma, os desembolsos
do Fies pularam de R$ 1,1 bilhão para R$ 13,7 bilhões e o número de
contratos de financiamento passou de 76 mil para 732 mil.
Mas não foi só a redução da receita que deixou as mantenedoras
assustadas. Elas vinham discutindo com o MEC a liberação de recursos do
Fies para o ensino de graduação e pós-graduação a distância ainda este
ano. Pelas regras em vigor, os cursos de pós-graduação só podem ser
oferecidos por instituições credenciadas. Em todo o País, há mais de 200
universidades oferecendo 9 mil cursos, entre livres e autorizados.
Agora, as mantenedoras temem que seus planos de expansão tenham de ser
adiados ou até engavetados. Entre os conglomerados educacionais que
abriram capital na Bolsa de Valores com o objetivo de captar recursos
para financiar sua expansão, os três maiores chegaram a perder 18,3%,
28% e 40,5% de seu valor de mercado, respectivamente, só na primeira
quinzena de janeiro.
Os dirigentes dessas instituições alegam que, ao mudar as regras do Fies
e do ProUni de modo abrupto e pressionado por razões fiscais, o governo
vai na contramão das metas de inclusão social definidas pelo Plano
Nacional de Educação e desmoraliza o slogan "Brasil, Pátria Educadora",
que Dilma escolheu para o segundo mandato. Também afirmam que, ao
alterar leis ordinárias por meio de portarias, o governo dissemina
insegurança jurídica e abre caminho para a "judicialização" do ensino
privado. "Tem de haver política fiscal, mas não se pode mudar as regras
da noite para o dia, sob o risco de quebrar as instituições", diz
Rodrigo Capelato, diretor do Sindicato das Mantenedoras de
Estabelecimentos do Ensino Superior de São Paulo.
Desde que o Fies e o ProUni foram criados, especialistas em educação têm
advertido para a necessidade de medidas paralelas, que garantam um
mínimo de qualidade à expansão do ensino superior. Ao responder às
críticas das mantenedoras, o governo afirmou que as mudanças no Fies e
no ProUni aprimorarão a qualidade do ensino superior. Elas dificilmente
trarão qualquer ganho de qualidade, refutam os pedagogos.
Se a área considerada estratégica por Dilma para seu segundo mandato é
gerida aos sobressaltos e litígios judiciais, é possível imaginar o que
está ocorrendo com o restante da máquina governamental.
fonte rota2014
0 comments:
Postar um comentário