editorial do Estadão
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e seus companheiros de equipe ainda vão ter muito trabalho para levar os empresários a confiar na política econômica e retomar o otimismo. Confiar na política, nesse caso, é confiar, antes de mais nada, na determinação da presidente Dilma Rousseff de fazer o necessário para arrumar a casa.
Em
Davos, na semana passada, um empresário estrangeiro perguntou ao
ministro da Fazenda, numa reunião fechada, se ele esperava sustentação
suficiente para realizar seu trabalho. Segundo um participante do
encontro, o ministro contornou o problema sem dar uma clara resposta à
questão. No dia seguinte, num painel sobre perspectivas globais, ele
cuidou indiretamente do tema. Em sua primeira intervenção, e antes de
qualquer pergunta sobre o assunto, Levy atribuiu a uma decisão
presidencial a adoção de um programa de ajustes e de reformas.
A
mensagem do ministro sobre seus planos de trabalho tem sido geralmente
bem recebida, mas a confiança na determinação do governo depende
principalmente das atitudes da presidente. Ela é fiadora dos ministros e
de seus projetos. Mas quem pode ser o fiador de um fiador, senão ele
mesmo, com sua imagem e seu passado? Neste caso, a história da fiadora,
no seu primeiro mandato e também nos dois períodos do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, pouco ajuda e muito atrapalha. Qualquer pessoa
razoavelmente informada identifica as origens internas do baixo
crescimento, da fraqueza da indústria, da inflação persistente e da
piora das contas externas.
O
esforço do governo para animar os empresários e especialistas do setor
privado, disse também em Davos o presidente do Banco Central (BC),
Alexandre Tombini, já se reflete nas projeções de inflação para os
próximos anos. Mas os sinais de otimismo e de confiança ainda são muito
escassos, pelo menos em relação a 2015 e 2016 - metade do segundo
mandato da presidente Dilma Rousseff.
As
projeções de inflação para 2015 subiram desde o fim do ano, segundo a
pesquisa Focus, produzida semanalmente pelo BC. Em quatro semanas, a
mediana das estimativas subiu de 6,53% para 6,99%, distanciando-se
progressivamente da meta de 4,5%. Para 2016, houve uma queda de 5,7%
para 5,6%. Esse é o mais claro sinal de otimismo indicado pela pesquisa.
Os preços ao consumidor ainda estarão bem acima da meta no fim do
próximo ano, mas os juros básicos, segundo os consultados, tenderão a
diminuir de 12,5% no fim deste ano para 11,5% no fim do próximo. A
aposta numa inflação de 5,6% depois de dois anos de nova política
dificilmente poderá ser descrita como um sinal de entusiasmo, mas a
tendência prevista pelo menos é favorável.
Todos
os demais indicadores vitais continuarão muito ruins. Em queda há
quatro semanas, a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
em 2015 caiu, nesse período, de 0,55% para 0,13%. A estimativa para o
próximo ano recuou, no mesmo intervalo, de 1,8% para 1,54%. O prometido
aperto fiscal, somado à alta de juros, até poderia fundamentar a
expectativa de baixo crescimento em 2015, mas em 2016, segundo os
participantes da pesquisa, a economia brasileira continuará estagnada,
no pelotão das mais fracas do mundo. Não é esse o cenário da equipe
econômica. Depois do aperto inicial, tem dito o ministro da Fazenda,
haverá condições para a retomada.
A
projeção para o PIB é compatível com a previsão de mais dois anos
penosos para a indústria, com crescimento de 0,69% em 2015 e de apenas
2,5% em 2016. As estimativas para os dois anos também recuaram nas
últimas semanas. O quadro se completa com a expectativa de resultados
muito fracos no comércio exterior. O saldo comercial previsto para este
ano caiu de US$ 5 bilhões para US$ 4,5 bilhões nas últimas pesquisas
Focus. O resultado esperado para o próximo ano deslizou de US$ 15
bilhões para US$ 10,02 bilhões.
A
reabilitação da indústria, devastada nos últimos anos, é crucial para a
retomada do crescimento. Os economistas do mercado sabem disso e
parecem levar pouco a sério essa possibilidade. O governo deveria tentar
entender a causa dessa descrença.
FONTE ROTA2014
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