editorial de O Globo
No discurso de posse, a presidente Dilma ignorou o fato de a estatal ter sido vítima de aparelhamento político e de decisões do próprio governo
A diretoria da Petrobras já anunciou que este ano não recorrerá a
financiamentos externos para levar adiante seus negócios. Na verdade, o
mercado não está aberto, no momento, para a companhia. A estatal
acumulou elevado endividamento, foi vítima de aparelhamento político e
teve de se submeter a um demagógico represamento de preços dos seus
principais produtos, por decisão do acionista controlador, representado
pelos governantes de ocasião do país.
Será um ano de muitos desafios para a Petrobras porque a companhia tem
pela frente um ambicioso programa de investimentos e precisará, ao mesmo
tempo, conciliar tais compromissos com a necessidade de reduzir o
endividamento como proporção do patrimônio. Enquanto enfrenta um
ambiente esgarçado pela revelação de uma série de escândalos de
corrupção e de outros casos sob suspeição, com impacto no comportamento
de suas ações nas bolsas de valores.
É quase que um apagar de incêndios diários. Os acionistas minoritários
desconhecem os resultados da companhia no terceiro trimestre de 2014,
que somente serão divulgados no fim deste mês, e sem passar pelo crivo
dos auditores externos. Na ausência desses resultados, a empresa teve de
negociar com os grandes credores um acordo para que o total da dívida
não fosse declarada como vencida.
Ao tomar posse para o novo mandato, a presidente Dilma Rousseff dedicou
parte de seu discurso à defesa da estatal eximindo o governo de
responsabilidade nessa crise. Chegou a mencionar “inimigos externos”,
como se a Petrobras estivesse sendo alvo de uma campanha de
desmoralização sem vínculo com a dura realidade administrativa,
econômica e financeira da companhia. Para usar uma imagem
cinematográfica, a Petrobras conviveu com o inimigo dentro da própria
casa.
A companhia é muito importante para o Brasil. É líder em uma indústria
com forte efeito multiplicador sobre o conjunto da economia,
contribuindo para redução da dependência energética no presente e com um
potencial de receitas futuras que serve de anteparo contra crises
crônicas no balanço de pagamentos. Por isso, precisa ser preservada como
empresa, e não como instrumento político-partidário, executando tarefas
de conveniência dos governantes de turno.
A Petrobras se fortaleceu com a abertura do mercado brasileiro de
petróleo, ao buscar mais eficiência, e poderia ter prosseguido nesse
ritmo não fosse a visão obtusa e contaminada por um ideologismo
ultrapassado que fez o país retroceder nas regras e objetivos traçados
para o setor. Se, na época da descoberta do pré-sal, o governo não
tivesse paralisado as rodadas de licitações anuais, a Petrobras estaria
hoje contando com mais parceiros que poderiam ter colaborado para evitar
o quadro de dilapidação que a companhia sofreu. O país não estaria
agora sob o risco de ver a paralisação de investimentos tão relevantes.
fonte rota2014
0 comments:
Postar um comentário