por Dora Kramer O Estado de São Paulo
A preocupação das empresas envolvidas na Operação Lava Jato de que os
políticos - ou pelo menos ou peixes grandes da área - saiam ilesos do
caso Petrobras está evidente na linha de defesa adotada pelos advogados:
a alegação de que foram coagidas a participar de um esquema de
superfaturamento de contratos, cujo objetivo era fazer caixa para
financiar um projeto de poder.
De maneira mais tortuosa, mas nem por isso menos assertiva, o governo
sinaliza que já entendeu que está sendo arrastado para o centro da linha
de tiro e ensaia a reação. De forma diplomática, a presidente Dilma
Rousseff separa pessoas físicas de jurídicas ao dizer que empresas não
podem responder pela (má) conduta de funcionários.
Em outra dimensão, porém, o ex-secretário-geral da Presidência Gilberto
Carvalho fala aos companheiros do PT sobre a existência de um "complô"
de empreiteiras para corromper políticos ligados ao governo e
funcionários da Petrobrás no intuito de levá-los todos às "barras dos
tribunais".
Pois é. Os dois lados já se deram por entendidos. Um tenta demonstrar
que foi vítima do outro e vice-versa. Na realidade, a narrativa não
inclui sujeitos passivos. Todos os personagens são ativos, pois atuaram
conforme seus interesses. Políticos e empresários aliaram fome e vontade
de comer. Não há inocentes na história.
Para efeito de defesa pretendem agora se distanciar, lutar em campos
opostos. Do ponto de vista da Justiça, porém, pode ser tarde. Houve um
momento em que essa aliança poderia ter sido desfeita. Hoje não há sinal
de que juízes de primeira e última instância olhem com tolerância para
negócios com indícios de ilícitos no Estado.
Limão. Não
há resultado ótimo para o governo nas eleições das presidências da
Câmara e do Senado no próximo domingo. Reeleito o senador Renan
Calheiros, o Planalto não terá na presidência o fiel aliado dos anos
anteriores.
Sem expectativa renovada de poder e com passivo de insatisfações
acumuladas, a presidente Dilma Rousseff conhecerá a face do político que
não tem "compromisso com o erro" quando lhe convém. Calheiros é aliado
de suas conveniências.
Na Câmara, se ganhar Eduardo Cunha (PMDB), o governo não terá um
interlocutor submisso, mas nem por isso adverso. Tudo vai depender da
atitude do Palácio do Planalto.
Se ele for eleito e o governo souber fazer política direito, o panorama
ficará melhor quanto mais Cunha receber sinais favoráveis à composição.
Agora, se ele perder com o governo colocando toda a artilharia contra, a
consequência será pior.
Derrotado para a presidência da Câmara, Eduardo Cunha será reconduzido à
liderança do PMDB com a "faca nos dentes" e o comando de, no mínimo, 66
deputados.
Sem contar aqueles que ele influencia fora do PMDB, que devem ser mais ou menos uma centena.
Contas. Os
governistas estão muito furiosos com os oposicionistas. É verdade que
para isso precisam reconhecer que, se a eleição para a presidência da
Câmara fosse hoje, Eduardo Cunha estaria eleito.
Segundo eles, o resultado está na mão da oposição. Para onde forem os
votos do PSDB e do DEM, mas principalmente dos tucanos, irá a definição
da decisão em primeiro ou segundo turno.
Oficialmente, os governistas dizem que Arlindo Chinaglia (PT) se
fortaleceu. Nos bastidores, reconhecem que a derrota para Cunha é certa
se a oposição não mudar de opinião.
FONTE ROTA2014
0 comments:
Postar um comentário