editorial da Folha
São péssimos os resultados das contas externas brasileiras em 2014.
Apesar da desvalorização do real, que encarece produtos importados e
aumenta a rentabilidade das exportações, fica claro que levará muito
tempo para a indústria nacional restaurar competitividade e vislumbrar
maior participação no mercado internacional.
O Brasil encerrou o ano com deficit de US$ 90,9 bilhões (4,2% do PIB),
cifra que agrega as transações de bens e serviços com os demais países.
Trata-se de buraco ainda maior que o de 2013 (US$ 81,1 bilhões), algo
surpreendente: imaginava-se que o baixo crescimento interno ajudaria a
conter importações e outras despesas.
Mas o Brasil tem pouco a oferecer além de matérias-primas, cujos preços
estão em queda. O valor exportado encolheu 7%, para US$ 225 bilhões,
mais que compensando a redução nas importações provocada pela letargia
econômica.
Tome-se o caso do minério de ferro. Com a diminuição da demanda chinesa,
as vendas caíram de US$ 32,4 bilhões para US$ 25,8 bilhões. O preço
médio da tonelada ficou próximo a US$ 90, mas terminou o ano abaixo de
US$ 70.
Nas contas de serviços, cresceram as despesas com itens importantes,
como as remessas de lucros e dividendos e o aluguel de equipamentos.
Houve estabilização apenas nos gastos com juros, graças às taxas globais
ainda reduzidas.
Com o saldo no vermelho, o país, como qualquer pessoa, precisa obter
financiamento, principalmente por meio de investimentos diretos e
aplicações financeiras em renda fixa ou na Bolsa de Valores.
Não deixa de ser boa notícia, assim, que o volume de investimentos
produtivos tenha permanecido elevado, em nível similar ao dos últimos
anos. Aumentou, porém, a dependência de capitais de prazo mais curto, o
que preocupa.
A dificuldade em reduzir o deficit mostra que a desvalorização do real,
embora importante, não é uma panaceia. Após duas décadas de câmbio
valorizado, desmontaram-se as cadeias de produção de inúmeros bens
manufaturados.
A reversão desse movimento tomará anos, não meses, e demandará uma
agenda que combine redução de custos, simplificação tributária, abertura
da economia e acordos comerciais com países de peso.
A política econômica deve se alinhar a tais objetivos, o que não ocorreu
nos últimos anos. Controlar a despesa do governo de forma persistente
levará a juros mais baixos, o que por sua vez reduzirá a atração de
capital especulativo, historicamente a principal força para a
sobrevalorização cambial que tanto mal fez à indústria.
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