Gil Castello Branco o globo
Tão logo Dilma foi reeleita, com campanha baseada em mentira, calúnia e intimidação, emergiu das urnas o Brasil real
Não há evidência científica sobre a conexão entre a genialidade e a
loucura, mas é intrigante que renomados pintores, poetas, físicos e
músicos — como Van Gogh, Hemingway, Newton, Beethoven, dentre outros —
tenham sido afetados por transtorno bipolar.
O matemático e economista John Nash, por exemplo, lutou 30 anos contra a
esquizofrenia paranoide. Tinha delírios de grandeza e acreditava que as
maiores figuras do mundo o perseguiam. No entanto, ofereceu
contribuição relevante para o desenvolvimento da Teoria dos Jogos,
aplicada em várias áreas, até mesmo pelas Forças Armadas americanas.
Nash foi o personagem principal do filme “Uma mente brilhante”, que
levou diversas estatuetas do Oscar, em 2002.
Na política, porém, a esquizofrenia nem sempre é uma patologia. Durante
toda a campanha eleitoral, a presidente Dilma negou com veemência a
necessidade de alterar os rumos da economia e construiu o “Brasil
encantado”, fruto da percepção do marqueteiro João Santana, que
habilmente adestrou a então candidata.
Nada, porém, como um dia após o outro e uma eleição no meio. Tão logo
Dilma foi reeleita — com campanha baseada em mentira, calúnia e
intimidação —, emergiu das urnas o Brasil real. Em seu discurso de
posse, a presidente, enfim, admitiu a necessidade do “ajuste nas contas
públicas” e afirmou que sempre orientou suas ações “pela convicção sobre
o valor da estabilidade econômica, a centralidade do controle da
inflação e o imperativo da disciplina fiscal...” Balela. No primeiro
mandato, a inflação nunca esteve na meta de 4,5% e, ao fim dos quatro
anos, nos deparamos com os piores resultados fiscais em quase duas
décadas.
Por força das circunstâncias, o ajuste — que todos sabiam ser inevitável
— está em andamento. A taxa básica de juros (Selic) subiu 0,75%, as
tarifas de energia estão mais caras, as regras para seguro-desemprego,
abono salarial e pensões por morte foram alteradas, o salário-mínimo foi
arredondado para baixo, a correção da tabela do Imposto de Renda ficou
aquém da inflação e R$ 22,7 bilhões foram bloqueados no Orçamento de
2015, que sequer foi aprovado. Além disso, está em cogitação a abertura
do capital da Caixa Econômica Federal e o aumento de impostos. Como era
previsível, desde antes das eleições, as demissões nas fábricas já
começaram, resultado da longa estagnação econômica.
Na transição entre Mantega e Levy, as divergências afloraram. Tal como
ocorreu com os direitos do trabalhador, na área fiscal a “vaca também
tossiu”. Apesar das reiteradas promessas sobre o fim da “contabilidade
criativa”, as “pedaladas” — postergação de pagamentos de um ano para o
outro de forma a maquiar o resultado fiscal do exercício — voltaram a
acontecer. Quando todos pensavam que Mantega iria fechar a conta, ele
pediu a saideira.
No dia 31 de dezembro, mesmo com as agências bancárias fechadas, o
governo federal emitiu ordens bancárias de investimentos que somaram R$ 2
bilhões, para que o saque só ocorresse em 2015. O Ministério da Saúde
também “pedalou” ao informar que 30% da parcela de dezembro da
transferência a estados e municípios para procedimentos de média e alta
complexidades só seriam efetuados em janeiro. Mantega ainda empurrou
para o sucessor uma ordem bancária emitida no último dia do ano, no
valor de R$ 1,25 bilhão, para minorar o rombo do setor elétrico. Os
restos a pagar devem superar R$ 240 bilhões, dos quais R$ 36 bilhões de
despesas já reconhecidas e não pagas. O objetivo de adiar pagamentos foi
minorar o pífio resultado fiscal de 2014. Ainda assim, aborrecido,
Mantega não transmitiu o cargo a Levy. Não fez nem fará falta.
O paradoxo será Dilma corrigir os seus próprios erros. A “bronca” no
ministro do Planejamento foi um mau sinal, visto que o debate era
pertinente e oportuno. Para a recuperação da economia e a credibilidade
das contas públicas, o Ministério, hoje, é Levy, Barbosa, Tombini e mais
36. Quem suportou Sarney, Renan, Maluf e outros do mesmo naipe, deve
engolir o choro em vez de procurar supostas divergências ideológicas com
a nova equipe econômica. Aqui entre nós, para boa parte dos políticos
brasileiros, a ideologia é o poder.
De gênio e louco todo mundo tem um pouco, diz o ditado. O economista
John Nash, depois de décadas enfrentando distúrbios, em 1994 recebeu o
Prêmio Nobel em Ciências Econômicas. As contradições dos nossos
políticos, porém, passam longe da psicanálise.
Na maioria das vezes, não há traços de loucura e muito menos de genialidade. É, apenas, mero oportunismo.
fonte rota2014
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