editorial da Folha de São Paulo
No primeiro ano do governo Lula, 2003, as montadoras instaladas no Brasil venderam 1,354 milhão de veículos. Em 2010, ao fim dos oito anos de mandato do petista, as transações haviam mais que dobrado, chegando a 2,855 milhões.
São conhecidas as condições que permitiram crescimento tão acentuado: elevação da renda dos consumidores e da oferta de empréstimos, além de algumas reformas que deram mais segurança a esse mercado de crédito, tornando possível a redução das taxas de juros.
No ano em que se encerrou o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), as fábricas sediadas no Brasil não negociaram muito mais que em 2010.
Foram cerca de 2,887 milhões de veículos vendidos, aumento inferior a 1%.
Mais preocupante é a tendência: a produção caiu pelo segundo ano consecutivo, em torno de 15%; cortaram-se mais de 12 mil empregos nessa indústria.
Os repetidos esforços do governo Dilma para estimular o consumo de automóveis por meio de redução de impostos e para proteger as montadoras da concorrência externa deram em nada.
Fosse o declínio das vendas e da produção apenas o resultado de um ciclo normal de baixa da atividade econômica, não seria possível qualificar de fracassada a política da presidente. Mas é de fracasso que se trata –e não só.
O próprio conjunto de políticas de subsídios e favorecimentos setoriais contribuiu sobremaneira para solapar as bases do crescimento econômico. É justo lembrar que tais diretrizes já vinham sendo implementadas ao final do segundo governo Lula, mas foram intensificadas na gestão de Dilma.
O Planalto costuma argumentar que, sem estímulos e desonerações, o resultado da indústria em geral seria ainda pior; que o setor automobilístico e suas conexões respondem por uma parte substancial da manufatura brasileira.
Ocorre que o incentivo ao consumo por meio de crédito inflado nos bancos públicos e pelo esvaziamento do caixa do governo (desonerações) resultou em inflação maior num mundo à beira da deflação. Contribuiu, ademais, para a manutenção do câmbio em patamar inadequado (real valorizado demais) e para o descrédito geral da política macroeconômica.
A perda de competitividade, devida, entre outros motivos, à alta de custos e ao real valorizado, encorajou importações. O desarranjo limitou o aumento da renda –e, assim, do consumo– e reduziu investimentos. A produção industrial, a mais afetada, está em nível semelhante ao de seis anos atrás.
A política de incentivo ao consumo em ambiente de inflação alta e deficit externo crescente não apenas fracassou no seu objetivo imediatista, mas também deixou sequelas que vão prejudicar por anos a retomada do crescimento
fonte averdadesufocada
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