editorial da Folha de São Paulo
O discurso transformou-se num mantra. Com variações e ajustes de
ocasião, foi repetido desde 2007, quando a Fifa escolheu o Brasil para
organizar a Copa do Mundo de 2014, até os últimos minutos do segundo
tempo, por assim dizer.
Coube a Ricardo Teixeira, à época presidente da Confederação Brasileira
de Futebol –entidade que dirigiu de 1989 a 2012–, o privilégio de
enunciá-lo na cerimônia que confirmou o país-sede do Mundial.
"O modelo proposto para a Copa no Brasil prevê a prioridade para os
investimentos privados na construção e na reforma dos estádios, deixando
os recursos públicos para a modernização da infraestrutura", declarou o
cartola.
Então membro do Comitê Executivo da Fifa, Teixeira decerto influenciou
um relatório que, naquela ocasião, o órgão máximo do futebol elaborou.
Com pequenas modificações, o texto reproduzia as palavras utilizadas
pelo dirigente brasileiro, acrescentando que "só eventualmente [seriam
usadas] as PPPs [parceiras público-privadas]".
Sem nenhum esforço nem surpresa, o tempo se encarregou de revelar o
quanto aquelas considerações continham de cinismo e patifaria –pois
ninguém há de imaginar que a CBF e a Fifa estivessem sendo simplesmente
ingênuas.
O balanço final apresentado pelo governo federal mostra que a iniciativa
privada respondeu por meros 17% do total gasto com os estádios da Copa.
Dos R$ 8,4 bilhões desembolsados para erguer ou reformar as arenas, R$ 7
bilhões vieram dos cofres públicos e R$ 1,4 bilhão saiu de bolsos
particulares.
E isso sem contar que boa parte desses recursos está sendo financiada com generosas taxas de juros subsidiadas pelo governo.
Há, de todo modo, dois aspectos que chamam a atenção: dos 12 estádios do
Mundial, os que custaram mais caro são aqueles que tiveram maior aporte
direto do governo local; a arena Mané Garrincha (Brasília),
inteiramente paga com verbas públicas, foi, por larga vantagem, a mais
dispendiosa.
Decerto não se trata de coincidência. Trata-se, isto sim, de mais uma
demonstração de descalabro administrativo e pouco caso com o dinheiro do
contribuinte.
Se as contas da Copa já estão fechadas, é hora de vigiar a Olimpíada do
Rio. A ser realizado em 2016, o evento tem orçamento próximo de R$ 40
bilhões e, a crer no discurso oficial, será igualmente repartido entre
poder público e iniciativa privada. Acredite quem quiser.
fonte rota2014
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