, editorial de O Globo
Se era para divulgar balancete sem as necessárias baixas contábeis e contas auditadas, a empresa não deveria esperar o fim de prazos para revelar esses resultados
Ao divulgar o balancete do terceiro trimestre do ano passado sem as
devidas baixas contábeis relativas a uma reavaliação de seu patrimônio
(especialmente no que se refere a novas instalações que foram objeto de
superfaturamento praticado dentro do esquema do petrolão), e ainda por
cima com as contas não auditadas por uma companhia independente, a
Petrobras conseguiu desagradar a todos. Não por acaso, os preços das
ações da empresa despencaram quase 10%, na abertura do mercado, devido
ao balancete. No final do dia, a cotação havia caído 11,2%, e o valor de
mercado da companhia encolhido em R$ 13,7 bilhões.
Se era para divulgar um demonstrativo financeiro nessas condições, a
Petrobras não deveria ter “cozinhado” a decisão por três meses, deixando
acionistas, credores, fornecedores e clientes sem pista da situação
econômica e financeira da maior empresa brasileira. A companhia parece
ter esperado até o último momento para fazer essa divulgação, pois a
partir do dia 31, sábado, ficaria sujeita, legalmente, à execução
antecipada de dívidas. Então optou por uma divulgação formal.
De fato, pelo caráter e o vulto dos escândalos em que a empresa está
diretamente envolvida, não será fácil promover uma baixa contábil que
espelhe a real situação patrimonial da companhia, ainda mais sem contar
com o auxílio do auditor independente mais familiarizado com a
contabilidade da estatal. No entanto, é também esdrúxulo que somente em
cima do dia 31 a empresa tenha anunciado que recorrerá aos órgãos
reguladores do mercado de ações, a SEC, nos EUA, e a CVM, no Brasil,
para obter algum tipo de orientação.
E, com tudo isso, a Petrobras ainda apresentou em seu balancete
resultados sofríveis. A empresa promete há tempos uma recuperação, com o
aumento da produção de óleo e gás, e, mais recentemente, com a elevação
dos preços da gasolina e do óleo diesel. Ao menos no terceiro trimestre
do ano passado tal recuperação não se refletiu no balanço oficial, o
que é mais um motivo de preocupação, devido aos expressivos compromissos
de investimento já assumidos pela companhia. A empresa esgotou sua
capacidade de endividamento, e, com o desgaste de imagem que sofre a
cada dia, não tem a mínima possibilidade de recorrer ao mercado para se
capitalizar.
A estratégia que o governo adotou em relação à Petrobras é a mais
estranha que se poderia imaginar. Pouco faz para reverter esse quadro. A
empresa agora está exposta a ações judiciais de toda a ordem, no Brasil
e no exterior, por parte de acionistas minoritários que viram o valor
de mercado de seus papéis se esfumaçar. Além de prejuízos que essas
disputas judiciais poderão causar a uma companhia já financeiramente
debilitada, esse tipo e contencioso causa perdas de imagem que talvez
levem anos para serem recompostas.
FONTE ROTA2014
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