Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

E o Getúlio?

Por Luis Fernando Veríssimo  o globo


No Estado Novo, arbítrio era igual ao que se seguiu ao golpe de 64 . O Congresso foi fechado, havia censura à imprensa, prisões ilegais e tortura de presos
Em Taquari, interior do Rio Grande do Sul, cidade natal de Costa e Silva, foi destruído um monumento ao general, presidente do regime militar instalado no Brasil pelo golpe de 64. Surgiram outros movimentos no estado e no país com o mesmo objetivo, o de anular homenagens feitas aos presidentes ditatoriais.
O jornal “Zero Hora”, de Porto Alegre, fez um levantamento do número de avenidas, ruas, praças, ginásios, bustos, estátuas etc com o nome dos generais que presidiram o país durante a ditadura, do Castello Branco ao Figueiredo, e chegou a mais de 50, só no estado. Aí um leitor escreveu para o jornal perguntando por que o nome do Getúlio Vargas não estava na lista. Imagino que muita gente, ao ler a carta, deve ter tido, como eu, um momento “é mesmo!”

Não sei qual é a posição política do autor da carta ou seu motivo para levantar a questão, e não interessa.
A pergunta remete para uma questão maior, nunca satisfatoriamente encarada ou adequadamente resolvida. A importância do Getúlio para o progresso do país é indiscutível. A legislação social inédita que ele implantou, naquelas circunstâncias, contra aquelas oligarquias, ainda espanta.
O Brasil se transformou, econômica e politicamente, sob o seu governo, e isto não é opinião, é história. Mas, pelo menos durante oito anos, seu governo foi um governo ditatorial, e Getúlio tem todas as credenciais — salvo a farda e as estrelas de general — para estar na lista.
O Estado Novo que vigorou de 1937 a 1945, inspirado no regime de Salazar em Portugal, tinha os requisitos completos de um estado fechado e repressor. O arbítrio era igual ao que se seguiu ao golpe de 64. O Congresso foi fechado, havia censura à imprensa, prisões ilegais e tortura de presos.
Um nome se destacou entre os que comandavam a repressão, o de Filinto Muller, um admirador do nazismo e o principal responsável pela extradição da mulher do Prestes, a judia Olga Benario, para a Alemanha de Hitler. O Estado Novo acabou em 45, com a destituição de Getúlio.
Ele deixou no seu rastro um movimento popular, o “queremismo”, que acabou levando-o de volta ao poder. Pelo voto, o que para muitos significou uma absolvição do seu passado. Filinto Müller continuou sua carreira politica e morreu num acidente de avião, também absolvido.
Hoje há uma escola com seu nome no interior de São Paulo, e não deve ser a única. Alguém já disse que comédia é tragédia mais tempo. Substitua-se “comédia” por “esquecimento” ou “perdão” e temos uma explicação para o fenômeno Getúlio e para a dificuldade do seu julgamento, a menos que se adote a ideia do ditador no bom sentido.
Ele continua um mito para a esquerda e um enigma para o resto — ou seja, refratário a qualquer definição.  Além disso, imagine o trabalho que daria mudar o nome de todas as avenidas Getúlio Vargas do país.





fonte averdadesufocada

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