MIRANDA SÁ -
Arremessar sapatos é um grave insulto no mundo árabe e Zaidi foi
processado, dizendo em sua defesa que ao ver Bush sorrindo ao dizer “ter
vindo se despedir do Iraque”, sentiu “o sangue dos inocentes mortos ou
ficados órfãos no meu pé no momento”.
Sem querer, atirar sapatos como protesto foi além fronteiras
iraquianas e as sapatadas se tornaram uma manifestação adotada mundo
afora.
Nas eleições gerais da Índia, após uma verdadeira onda de sapatadas
contra candidatos demagogos, um analista chegou a afirmar que o ato era
“o máximo em arma não violenta”. Também chegou à Bélgica com acionistas
do grupo financeiro Fortis atirando sapatos contra a diretoria da
empresa.
Assim, este estilo de insurreição pacífica inspirou comédias teatrais
e televisivas, virou videogame e foi usado por grupos de relacionamento
virtual na Internet. Mais antigo e conhecido é o costume de atirar ovos
e tomates em desafetos, praticado principalmente pelas torcidas de
futebol.
Ficaram na memória da crônica esportiva ocorrências entre
simpatizantes do Treze de Campina Grande, do Flamengo e Botafogo do Rio e
do Corinthians paulista. Todas aconteceram por causa de derrotas
humilhantes, ou contra cartolas desacreditados ou técnicos repudiados.
Em comícios políticos e demonstrações partidárias aparecem aqui e
acolá indicando descontentamentos ou evidenciando dissidências. Contra
governos incompetentes ou corruptos, mostram-se como revolta pacífica
embora sofrendo críticas, evidentemente, da imprensa adesista.
Não faz muito tempo, isto ocorreu na República Tcheca, com Milos
Zeman na presidência, quando grande multidão vaiou-o e cobriu-o com uma
saraivada de ovos durante um comício. A notícia trouxe um lado cômico,
pois os seguranças de Zeman abriram guarda-chuvas para protegê-lo.
Ao assistir os repetidos atos terroristas nas manifestações populares
de São Paulo e Rio de Janeiro, revolto-me pela leniência com que os
governos tratam esses indivíduos mascarados, antidemocráticos, porque
quem esconde o rosto não apresenta boas intenções. No Rio, em 2013, uma
ala de disfarçados foi paga pelo PT para desestabilizar o governo de
Sérgio Cabral, merecedor de protestos, mas não para sofrer atos
violentos de vandalismo.
No dia 9, sexta-feira, em São Paulo, a marcha contra o aumento das
passagens de ônibus repetiu a coação irrefletida dos black-blocs,
atacando a polícia e fazendo quebra-quebra. Como gatos escondidos com o
rabo de fora, atacaram o governador Alckmin e livraram a cara do
responsável direto, Haddad, demonstrando inegável dependência
partidária.
É preciso ter caráter, autonomia partidária (e coragem) para fazer
valer o protesto pacífico das sapatadas e ovadas… E, da minha parte,
considero até aconselhável fazer-se valer desse expediente para ganhar
atenção da mídia e do público. Se entre os/as jornalistas que
piedosamente (quase de joelhos) participam das entrevistas palacianas de
Dilma houvesse um(a) de coragem, perguntar-lhe-ia a opinião sobre a
volta da CPMF. Se a resposta fosse a favor, uma sapatada, por falta de
ovos, nela!
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