por Leandro Narloch
Como seria o texto do balanço da Petrobras se eliminássemos eufemismos e
o traduzíssemos para o português? Minha tentativa vai abaixo – aceito
sugestões nos comentários.
A
Companhia entende que será necessário realizar ajustes nas
demonstrações contábeis para a correção dos valores dos ativos
imobilizados que foram impactados por valores relacionados aos atos
ilícitos perpetrados por empresas fornecedoras, agentes políticos,
funcionários da Petrobras e outras pessoas no âmbito da “Operação Lava
Jato”.
Seguinte:
teve uma roubalheira danada por aqui, como vocês estão cansados de
saber. Agora (ai que vergonha!) a gente vai ter que estimar quanto
roubaram.
No
entanto, em face da impraticabilidade de quantificar de forma correta,
completa e definitiva tais valores que foram capitalizados em seu ativo
imobilizado, a Companhia considerou a adoção de abordagens alternativas
para correção desses valores: i) uso de um percentual médio de
pagamentos indevidos, citados em depoimentos; ii) avaliação a valor
justo dos ativos cuja constituição se deu por meio de contratos de
fornecimento de bens e serviços firmados com empresas citadas na
“Operação Lava Jato”. Essas alternativas se mostraram inapropriadas para
substituir a impraticável determinação do sobrepreço relacionado a
esses pagamentos indevidos.
Gente,
mas isso é difícil demais! Envolve matemática. Ninguém aqui na
Petrobras tem a menor ideia de quanto pagamos a mais. Na verdade tinha
uma senhora que sabia, mas ela era meio chatinha e a mandamos pra
Cingapura. Até pensamos nuns jeitos de calcular, mas já era 16h30, fim
de expediente, daí desistimos. Ia dar um trabalho…
O
resultado das avaliações indicou que os ativos com valor justo abaixo
do imobilizado totalizaram R$ 88,6 bilhões de diferença a menor. Os
ativos com valor justo superior totalizaram R$ 27,2 bilhões de diferença
a maior frente ao imobilizado.
Perdidos
nas contas, resolvemos perguntar para a dona Maria, a senhora que traz
café aqui na sala do conselho. “Diga um número, dona Maria!” Ela disse
88, o que a maioria dos conselheiros achou razoável e de boas vibrações.
Mas 88 milhões ou bilhões? Passamos uns 40 minutos discutindo isso, até
decidirmos que 88 bilhões soava mais natural para uma empresa do nosso
tamanho.
No
entanto, o amadurecimento adquirido no desenvolvimento do trabalho
tornou evidente que essa metodologia não se apresentou como uma
substituta “proxy” adequada para mensuração dos potenciais pagamentos
indevidos, pois o ajuste seria composto de diversas parcelas de
naturezas diferentes, impossível de serem quantificadas individualmente,
quais sejam, mudanças nas variáveis econômicas e financeiras (taxa de
câmbio, taxa de desconto, indicadores de risco e custo de capital),
mudanças nas projeções de preços e margens dos insumos, mudanças nas
projeções de preços, margens e demanda dos produtos comercializados,
mudanças nos preços de equipamentos, insumos, salários e outros custos
correlatos, bem como deficiências no planejamento do projeto (engenharia
e suprimento).
Mas
depois de meia hora tentando fazer os cálculos, percebemos que seria um
trabalho chato demais da conta. Esses cálculos são pura loucura, cheios
de variáveis, taxa de câmbio, desconto, preço, insumos, salários e mais
um montão de coisas pra complicar, além da barbeiragem dos
engenheiros.
Com
objetivo de divulgar as demonstrações contábeis do terceiro trimestre
de 2014 revisadas pelos auditores independentes, a Companhia está
avaliando outras metodologias que atendam às exigências dos órgãos
reguladores (CVM e SEC).
CVM, SEC, dá uma ajudinha, poxa!
fonte rota2014
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