Marcos Troyjo
A história e a geografia conferiram a impressão de que Brasil e EUA
sempre gozariam de enorme liderança e influência sobre a América Latina.
O Brasil permaneceu política e territorialmente “uno” após a independência. O legado colonial espanhol estilhaçou-se em várias repúblicas. A escala da economia brasileira comparada à dos vizinhos, bem como sua enorme área e população, também convidam à ideia de uma liderança “natural”.
Já os EUA, com sua dramática ascensão econômica ao longo dos século 19 e 20 e a elevação ao status de superpotência com o fim da Segunda Guerra Mundial, tinham na América Latina seu “hemisfério”. Quantas vezes se ouviu que a região era “quintal” de Washington?
Nesta semana, contudo, o Fórum China-Celac formaliza em Pequim a progressiva diminuição da importância relativa de Brasil e EUA para a América Latina.
A China emerge como principal referência geoeconômica de países –como Argentina, Venezuela e Equador– que Brasil e EUA acreditavam compor sua preponderante esfera de projeção de negócios.
Xi Jinping acena com investimentos de US$ 250 bilhões para a região nos próximos dez anos. Sugere que seu comércio com a América Latina alcançará US$ 500 bilhões em 2025.
Nicolás Maduro, em meio à pindaíba venezuelana, sai de Pequim com cheques que somam US$ 20 bilhões. Rafael Correa volta a Quito trazendo no bolso US$ 7,5 bilhões em empréstimos e linhas de crédito.
IMPORTÂNCIA GEOESTRATÉGICA
Ademais, o presidente equatoriano asseverou no fórum, para regozijo de representantes dos 33 países da Celac e anfitriões, que a equação financiamento chinês x commodities latino-americanas é de “importância geoestratégica”.
Mesmo que os EUA quisessem, hoje é inimaginável competir com a irrefletida fascinação que a América Latina nutre pela China.
Além disso, a atual governança nos EUA impede reeditar empréstimos ou outros compromissos governo a governo comuns durante a excepcionalidade da Guerra Fria.
Mas o maior símbolo de “satelitização” de um país latino-americano à China se dá agora com aquele sempre considerado pelo Brasil como grande ponto focal de sua política externa: a Argentina.
A ARGENTINA CAI NA REDE
No apagar das luzes de 2014 –e, segundo o chanceler argentino, Héctor Timerman, para não chegar de mãos abanando ao encontro da Celac na China–, o Senado do país aprovou na última sessão do ano ambicioso tratado sobre investimentos industriais e infraestrutura. O acordo oferece a Pequim acesso prioritário a energia, mineração, transporte, agropecuária e outros setores-chave na Argentina.
Muitos desses negócios serão fechados na visita de Estado de Cristina Kirchner a Pequim, em março. Isso se dá sem nenhuma coordenação com Brasília e em detrimento do interesse de empresas do Brasil.
Ao contrário do que o Brasil elege como estratégia econômica externa –negociação a partir do Mercosul e tolerância a melindres argentinos–, Buenos Aires alça seu voo solo com os chineses. Com isso, dilapida ainda mais o sonho brasileiro de liderança regional.
O Brasil permaneceu política e territorialmente “uno” após a independência. O legado colonial espanhol estilhaçou-se em várias repúblicas. A escala da economia brasileira comparada à dos vizinhos, bem como sua enorme área e população, também convidam à ideia de uma liderança “natural”.
Já os EUA, com sua dramática ascensão econômica ao longo dos século 19 e 20 e a elevação ao status de superpotência com o fim da Segunda Guerra Mundial, tinham na América Latina seu “hemisfério”. Quantas vezes se ouviu que a região era “quintal” de Washington?
Nesta semana, contudo, o Fórum China-Celac formaliza em Pequim a progressiva diminuição da importância relativa de Brasil e EUA para a América Latina.
A China emerge como principal referência geoeconômica de países –como Argentina, Venezuela e Equador– que Brasil e EUA acreditavam compor sua preponderante esfera de projeção de negócios.
Xi Jinping acena com investimentos de US$ 250 bilhões para a região nos próximos dez anos. Sugere que seu comércio com a América Latina alcançará US$ 500 bilhões em 2025.
Nicolás Maduro, em meio à pindaíba venezuelana, sai de Pequim com cheques que somam US$ 20 bilhões. Rafael Correa volta a Quito trazendo no bolso US$ 7,5 bilhões em empréstimos e linhas de crédito.
IMPORTÂNCIA GEOESTRATÉGICA
Ademais, o presidente equatoriano asseverou no fórum, para regozijo de representantes dos 33 países da Celac e anfitriões, que a equação financiamento chinês x commodities latino-americanas é de “importância geoestratégica”.
Mesmo que os EUA quisessem, hoje é inimaginável competir com a irrefletida fascinação que a América Latina nutre pela China.
Além disso, a atual governança nos EUA impede reeditar empréstimos ou outros compromissos governo a governo comuns durante a excepcionalidade da Guerra Fria.
Mas o maior símbolo de “satelitização” de um país latino-americano à China se dá agora com aquele sempre considerado pelo Brasil como grande ponto focal de sua política externa: a Argentina.
A ARGENTINA CAI NA REDE
No apagar das luzes de 2014 –e, segundo o chanceler argentino, Héctor Timerman, para não chegar de mãos abanando ao encontro da Celac na China–, o Senado do país aprovou na última sessão do ano ambicioso tratado sobre investimentos industriais e infraestrutura. O acordo oferece a Pequim acesso prioritário a energia, mineração, transporte, agropecuária e outros setores-chave na Argentina.
Muitos desses negócios serão fechados na visita de Estado de Cristina Kirchner a Pequim, em março. Isso se dá sem nenhuma coordenação com Brasília e em detrimento do interesse de empresas do Brasil.
Ao contrário do que o Brasil elege como estratégia econômica externa –negociação a partir do Mercosul e tolerância a melindres argentinos–, Buenos Aires alça seu voo solo com os chineses. Com isso, dilapida ainda mais o sonho brasileiro de liderança regional.
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