por Samuel Pessoa
A derrota do senador Aécio Neves foi ruim para o país. Além de ser
oportuna a transição política, o Congresso eleito ajusta-se melhor a um
governo tucano do que petista.
Continuaremos em uma situação na qual o chefe do Executivo pertence a um
partido mais à esquerda do que a média do Legislativo. Continuaremos,
portanto, com coalizões ideologicamente muitas heterogêneas e gabinete
ministerial muito desproporcional.
Adicionalmente, a metade da sociedade que escolheu Aécio tinha genuíno
desejo de mudança. Parte dos que, mesmo desejando mudanças, votaram na
continuidade o fez por medo de redução dos gastos e dos programas
sociais. A divisão resulta da vitória de Dilma e da estratégia do medo.
Aécio unificaria facilmente o país.
Também não é verdade que o senador Aécio teve desempenho ruim em Minas
Gerais. A presidente Dilma foi reeleita com 51,6%, ante 52,4% em Minas.
Ou seja, o voto dos mineiros foi mais favorável à candidata petista,
relativamente à média do país, em 0,8 ponto percentual.
Essa mesma conta para as eleições de 2002, 2006 e 2010 resulta,
respectivamente, em 5,2, 4,4 e 2,4 pontos percentuais favoráveis ao
candidato petista. Ou seja, Minas tem sido sistematicamente mais petista
na eleição nacional do que a média do país, apesar de essa diferença
estar em queda e ter caído muito nesta eleição.
A derrota foi na média do país.
E ela ocorreu porque o PSDB não foi capaz de convencer parcela dos
descontentes com o atual governo de que não haveria recuo na área
social.
Como argumentei em diversas oportunidades, não há nenhum sinal de que os
governos tucanos não priorizem a área social. Documentei na coluna de
17 de agosto que
o governo FHC aumentou o gasto social em 1,5 ponto percentual do PIB. Esse número está subestimado pois não considera os gastos com saúde e educação.
Esses foram anos em que a prioridade da sociedade no gasto social foi
canalizada para a universalização da educação fundamental, com o Fundef,
e para a implantação do sistema único de saúde. Evidentemente em cada
momento há uma agenda. O governo FHC tocou a agenda social de sua época.
Como já argumentei neste espaço, desde 2009 criou-se um fosso entre os
projetos dos dois principais partidos que disputam o Poder Executivo em
relação especificamente à maneira de conduzir a economia. Os governos
petistas preferem um Estado interventor, e o modelo tucano, um Estado
regulador. Essa diferença não tem implicações para o investimento na
área social ou para a carga tributária.
Ocorreu que simplesmente a candidatura tucana perdeu o debate. E,
talvez, tenhamos perdido porque fazer o debate é difícil ou quase
impossível.
A campanha petista travou o debate sobre legados empregando a
numerologia que apresenta em todas as campanhas. Considera uma lista de
estatísticas econômicas e sociais e apresenta o valor médio da
respectiva estatística no período FHC e nos 12 anos petistas.
O processo de desenvolvimento institucional e demográfico da sociedade
tem produzido tendência natural de melhora em inúmeras estatísticas. A
comunicação tucana defronta-se com uma tarefa hercúlea. Precisa mostrar
que teria sido possível fazer mais e melhor. Ou ainda que, se o grupo
político adversário tivesse ganhado quando nós ganhamos, isto é, nos
anos 1990, eles teriam feito pior.
Ou seja, a tarefa da propaganda política para o partido da oposição num
momento em que a vida das pessoas melhora demanda exercício
contrafactual. É muito difícil, quiçá impossível.
Dois caminhos se apresentam.
A situação econômica deteriorou-se muito. Se não houver forte arrumação
da casa, a oposição deve ganhar em 2018. Se a política econômica do
atual governo voltar ao padrão que vigorou no período Palocci, é
possível que o ciclo petista continue.
Mesmo assim a chance de transição política em 2018 cresceu muito, pois a
situação deteriorou-se de tal maneira que será muito difícil a
arrumação e talvez, como ocorreu com os governos tucanos nos anos 1990,
mesmo arrumando não haja tempo hábil e a colheita fique para outrem.
fonte rota2014
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