editorial de O Globo
Importa é que as instituições continuem a funcionar, a Lava-Jato mantenha seu trabalho de forma impessoal, TCU e TSE deliberem o que têm de deliberar
Como é usual em Brasília, correm rios de especulações sobre os motivos
que levaram o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), a abandonar,
no combate ao Planalto, o colega Eduardo Cunha (RJ), da Câmara, dois
peemedebistas de elevado escalão investigados na Lava-Jato, passíveis de
serem denunciados pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, ao Supremo.
Fala-se muito sobre a conversão de Calheiros à linha de defesa do
mandato de Dilma, principalmente no TCU, onde o senador teria especial
influência. Coincidência ou não, o tribunal estendeu mais uma vez o
prazo para Dilma defender sua prestação de contas referente a 2014, e
ainda elaboraria uma alternativa para livrar a presidente de
responsabilidade por “pedaladas” fiscais. Em contraposição, enquanto se
noticiam dificuldades técnicas para o MP escalar Renan no banco dos réus
da Lava-Jato, Janot acaba de acusar Cunha de tentar usar a Advocacia da
União em causa própria, para defendê-lo no caso do recolhimento de
provas, na Câmara, de que petições supostamente de achaque a empresas
foram redigidas no gabinete do presidente da Casa.
É fato que a reciclagem da postura de Renan, sacramentada com a tal
Agenda Brasil, criou espaço para o Planalto fazer política e assim, com o
Congresso, viabilizar o essencial ajuste nas contas públicas, sem o
qual o país não aproveitará o tempo que lhe é concedido por agências de
avaliação de risco para sinalizar a rearrumação da economia num prazo
previsível.
Na reação às ameaças de impeachment de Dilma, Lula mobiliza os tais
“movimentos sociais", preocupados em não perder o fácil acesso ao
dinheiro público dos últimos 12 anos. Tenta também se contrapor às
manifestações de domingo. As pesquisas, porém, que situam Dilma como a
mais impopular presidente desde que esses levantamentos são feitos, não
se mostram animadoras para o PT e seus “movimentos sociais".
Importa é que as instituições continuem a funcionar. A Operação
Lava-Jato tem de se manter na mesma linha de tratar todos de forma
impessoal, como estabelece a Constituição — até o ex-presidente Lula foi
dessacralizado, o que é positivo para a democracia. Que o MP federal
faça o encaminhamento de denúncias de políticos ao Supremo, o TCU e o
TSE (Tribunal Superior Eleitoral) deliberem o que têm de deliberar, e
assim por diante. Sem que o futuro do país seja sequestrado por
interesses de pessoas, partidos e grupos.
extraídaderota2014blogspot





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