por Carlos Alberto Sardenberg O GLOBO
Todo mundo dizia que a desaceleração chinesa terminaria por derrubar o preço dos principais produtos de exportação
O governo Dilma 2 está cada vez mais parecido com o Dilma 1. Começou
propondo uma guinada de política econômica, até deu início prático ao
novo modelo comandado pelo ministro Joaquim Levy, mas tem tido
sucessivas recaídas no modo Guido Mantega.
As últimas semanas mostraram três tipos de recaída: o recurso ao
marketing; o improviso na gestão; e colocar a culpa de tudo em alguém lá
fora, no momento, os chineses.
Uma quarta característica do Dilma 1, o otimismo, não pode ser praticada
neste momento por razões óbvias. A situação econômica é muito pior e
vem piorando. Não há cegueira que esconda isso. Mesmo assim, a
presidente saiu para um tipo de otimismo invertido.
Ok, a crise é maior do que ela dizia ser. Também mais longa, de modo que
não poderia prometer para o próximo ano “uma situação maravilhosa”.
O que estaria abaixo de “maravilhosa”? Se for, digamos, “muito bonita”,
também não dá para prometer. Sequer uma “bonitinha”. Simplesmente boa?
Também não cabe.
Não tem como escapar de um ano difícil, mas, mesmo admitindo a
qualificação, a presidente ressalva, de novo: não teremos “dificuldades
imensas, como muitos pintam”.
Se não são imensas, seriam apenas grandes?
E por aí vai. A técnica é fugir das palavras que descrevem a realidade: recessão e desemprego, com inflação e juros altos.
Esqueçam as maravilhosas e as imensas. O Brasil está em recessão,
ficando mais pobre neste ano e um pouco mais em 2016. O desemprego é de
8,5%, com tendência de alta. A inflação, hoje na casa dos 9% ao ano,
subtrai renda das famílias, que estão mais endividadas.
Fazer o quê? Aqui entra uma legítima argumentação Dilma/Mantega: é a economia internacional, no caso, a crise da China.
A China, nossa principal parceira comercial, entrou em desaceleração,
oficialmente, digamos, em 2012. O país, que crescia a 9,5% ao ano, caiu
para a faixa dos 7% — e o novo governo anunciou que esse era o “novo
normal”, em um momento de mudança no modelo econômico.
Todo mundo sabia e dizia que a desaceleração chinesa terminaria por
derrubar o preço dos principais produtos brasileiros de exportação,
minério de ferro e soja. Em resumo, todo mundo sabia que a era CCC —
China, commodities e crédito/consumo — chegara ao fim não apenas para o
Brasil, mas todos os emergentes.
Só agora, pelo menos três anos depois, a presidente Dilma percebeu isso?
Duas questões: ela de fato não sabia ou sabia e tratou de esconder isso
dos brasileiros? O que seria pior?
A política de ajuste e reformas ortodoxas introduzida com a colocação de
Levy no Ministério da Fazenda era uma confissão tácita de erro. Isso
não foi admitido — ao contrário, era uma “continuidade” — mas, de umas
semanas para cá, parece que a presidente começa a se arrepender.
Chamou os marqueteiros, o pessoal que não resolve nada, mas cria a tal agenda positiva. Por exemplo: cortar dez ministérios.
Quais? Ainda não se sabe, a estudar.
Economia de gasto? Alguns milhões.
Medida imediata? Colocar à venda uns prédios que estavam fechados há
tempos, incluindo uma cobertura na Barra. Se vender tudo, dá uns 90
milhões de reais. Para se ter uma ideia: na preparação do Orçamento de
2016 parece que estão faltando R$ 90 bilhões para fechar as contas.
Outra dos marqueteiros: inundar a mídia de propaganda oficial, mostrando um país, aqui sim, maravilhoso.
No recurso ao improviso (ou trapalhadas), o governo conseguiu arrumar R$
15 bilhões para pagar a primeira parcela do 13º dos aposentados do
INSS. Não faz duas semanas, o ministro Levy havia dito que não tinha o
dinheiro, que só pagaria em novembro. Pegou mal, Lula reclamou, a
presidente mandou pagar tudo agora.
Se tem o dinheiro para isso, então o ministro Levy mentiu. Como ele é de
uma franqueza até rude, pode-se entender o seguinte: não há dinheiro se
a meta de fazer economia for a sério. Nesse caso, o aparecimento súbito
dos R$ 15 bilhões indica que se caminha na direção contrária, de
déficit.
Reparem: o governo arrumou um gasto imediato de R$ 15 bilhões e colocou
um anúncio de venda de imóveis que podem dar uns R$ 90 milhões. Isso é
um típico ajuste fiscal à Mantega.
DESTRUIÇÃO DAS FEDERAIS
A coluna da semana passada, sobre a longa greve das universidades
federais, trouxe manifestações de professores inconformados com a
situação. Como Rodrigo Paiva, da UFF, que contou: dos 70 professores do
Departamento de Física, apenas três aderiram à greve. Os demais 67 não
conseguem dar aulas porque a direção da universidade não faz as
matrículas.
Outra: a UFF tem 3.100 professores. A greve foi decidida em assembleia com pouco mais de cem docentes.
Na Federal do Rio Grande do Sul, foi feita uma votação eletrônica, da
qual participaram 1.247 professores. Greve rejeitada por uma maioria de
54,5%.
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