por Rogério Furquim Werneck O GLOBO
A questão é como o país, atolado como está, poderá atravessar os próximos 40 meses com um governo tão fraco
Há três semanas houve quem achasse que a presidente saíra das cordas.
Mas o alívio durou pouco. E a impressão que agora se tem é de que o
governo voltou a se debater, dia a dia, para não ser tragado pelo
vórtice formado pela interação da crise econômica com a crise política.
Parte do alívio momentâneo sentido pelo Planalto adveio da constatação
de que a elite política do país ainda resiste à ideia do impeachment.
Mas não é o apoio à presidente que vem impedindo a formação de uma
coalizão decisiva a favor do impeachment e, sim, a falta de um consenso
mínimo em torno do day after.
Por enquanto, persistem visões divergentes sobre a conveniência e a
oportunidade do brusco rearranjo de forças políticas que seria
deflagrado pelo impeachment. Ainda há muita incerteza sobre quais dos
atores políticos relevantes sobreviverão à Operação Lava-Jato.
E, também, desalento com a ingrata agenda que seria herdada pelo
sucessor da presidente Dilma, enquanto, de mão beijada, o PT se livraria
do imbróglio e, em boa hora, readquiriria o privilégio de ser oposição.
Mas, se a solução do impeachment ainda esbarra em tanta resistência, a
preservação de Dilma no cargo também se afigura altamente problemática. É
difícil entrever como a presidente conseguirá escapar do círculo
vicioso que a vem arrastando para uma posição cada vez mais vulnerável.
O agravamento da crise econômica tem acentuado a fragilização da
presidente. E frágil como está, o Planalto só consegue dar respaldo a
uma política econômica de pouco alcance, muito aquém da que se faz
necessária para superar o quadro de alta incerteza e paralisia de
decisões que o país enfrenta. Persistindo essa falta de perspectiva, não
há como evitar aprofundamento da crise econômica, fragilização
adicional da presidente e estreitamento ainda mais severo das
possibilidades de condução da política econômica.
O pior é que esse círculo vicioso vem sendo reforçado por outro processo
independente de fragilização da presidente, decorrente do avanço da
Operação Lava-Jato. Tivesse o Planalto alguma folga para enfrentar o
duplo desgaste decorrente da interação do agravamento da crise econômica
com a Lava-Jato, as dificuldades ainda seriam mais manejáveis. Mas com
seus níveis de aprovação tão baixos como já estão, a situação de Dilma
torna-se a cada dia mais crítica. Com todo o desconforto adicional que a
deterioração do quadro econômico ainda promete impor ao país, é difícil
que sua avaliação nas pesquisas de opinião possa melhorar nos próximos
meses.
O risco de afastamento da presidente não vai desaparecer de repente. E
depende de fatores fora de controle do sistema político. Por enquanto,
não é possível vislumbrar um marco inequívoco a partir do qual a
presidente poderia voltar a se sentir segura. No limite, o Planalto
poderá continuar assombrado por esse risco até o final do mandato.
Sobram razões para crer que o cenário de permanência de Dilma está
fadado a ser dominado pelas enormes dificuldades que a presidente terá
de enfrentar para conter sua fragilização política. A questão é como o
país, atolado como está, numa crise econômica de grandes proporções,
poderá atravessar os próximos 40 meses com um governo tão fraco.
O que o Planalto teme é que, mais dia menos dia, a elite política do
país afinal se dê conta de que, comparado a esse cenário, os
desdobramentos do impeachment possam se afigurar menos custosos do que
por enquanto aparentam ser. E, no entanto, o Planalto não se emenda.
É espantoso que, em meio a esse quadro tão delicado, em que a presidente
luta pela preservação do seu mandato, o governo se tenha permitido
anunciar, na semana passada, medidas que sinalizam abandono do plano de
jogo da política econômica e volta à improvisação imediatista do
primeiro mandato. Ao sabor da estridência dos lobbies de sempre, vêm
sendo reabertos, em Brasília, os velhos guichês de favores. No Planalto,
continuam acreditando que é com medidas desse tipo que a presidente
conseguirá superar sua fragilidade política.
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