por Bernardo Mello Franco FOLHA DE SÃO PAULO
É possível encher o espaço desta coluna com declarações da presidente
Dilma Rousseff e seus aliados contra a ideia de cortar ministérios. A
sugestão circulou em diversos momentos, mas sempre foi tratada com
desprezo no Planalto.
Uma boa oportunidade surgiu depois dos protestos de junho de 2013,
quando a popularidade presidencial sofreu o primeiro tombo. Pressionada
pelas ruas, Dilma foi aconselhada a enxugar a máquina em sinal de
austeridade. "Há um consenso hoje na questão do número exagerado de
ministérios", disse o então presidente da Câmara, Henrique Eduardo
Alves, sugerindo o fim de 14 pastas.
A presidente escalou Jaques Wagner, então governador da Bahia, para
responder em seu nome. "Não é reduzindo ministério que se dá eficiência à
máquina pública", disse ele. Dois anos depois, o peemedebista e o
petista esqueceram a divergência e foram premiados com a mesma moeda.
Hoje, eles são dois dos 38 ministros do governo Dilma.
O tema voltou na campanha de 2014, quando Aécio Neves e Marina Silva
prometeram passar a navalha na Esplanada. Como nenhum deles se encorajou
a nomear as pastas que seriam sacrificadas, a presidente se sentiu à
vontade para contra-atacar.
"Tem gente querendo reduzir ministérios. Um deles o da Igualdade Racial,
outro o que luta em defesa das mulheres. Eu acho um verdadeiro
escândalo querer acabar", disse, em setembro. No mês anterior, ela
definira a promessa dos adversários como uma "cegueira tecnocrática".
Reeleita, Dilma teve nova chance de reduzir o time, mas bateu o pé.
"Outra lorota", disse em novembro, ao ser questionada sobre os rumores
de que enxugaria o segundo escalão. Ela insistiu que a medida não
geraria "economia real" para o governo.
Ao voltar atrás, Dilma deixou duas hipóteses em aberto. Ou mentiu antes,
ao dizer que não precisava cortar ministérios, ou mente agora, ao agir
contra suas convicções. Em qualquer dos casos, a lorota terá vencido.
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