, editorial de O Globo
Movimentos grevistas expõem atuação radical de grupos de estudantes e sindicatos de funcionários, cujo resultado é a degradação da qualidade do ensino
O que aparece na superfície da atual crise nas universidades públicas
federais, várias paralisadas por movimentos grevistas de professores e
funcionários, com apoio de estudantes, é o ajuste fiscal por que passa o
Estado brasileiro. Quebrado por uma série de erros de política
econômica cometidos no primeiro mandato de Dilma, o poder público faz
cortes onde pode e eleva impostos, na tentativa de reequilibrar as
contas e, assim, permitir a recuperação da economia mais adiante.
As universidades são atingidas pela tesoura do ministro Joaquim Levy e
reagem com paralisações que já somam, em alguns casos, quase três meses,
num enorme prejuízo para o ensino superior. No subsolo dessa crise,
porém, fermentam outros ingredientes.
As greves expõem um processo antigo de perigosa politização nos campi,
em que transitam organizações radicais de estudantes e sindicatos de
funcionários, quase sempre em conflito com as reitorias, numa degradação
do ambiente universitário cujo resultado é a queda no padrão de
qualidade do ensino público superior.
Se já não bastasse a baixa qualidade do ensino básico, principalmente no
ciclo médio, ser enorme obstáculo para que o país escale estágios de
desenvolvimento, está em curso o desmonte de universidades federais e
algumas estaduais. Tudo em nome da política e da ideologização.
Deveriam buscar novas fontes de receita para ampliar os orçamentos.
Nenhuma novidade nisso, pois há em várias universidades públicas
arranjos administrativos que, por meio de fundações e similares,
faculdades se financiam com prestação de serviços qualificados a
terceiros.
Mas, pelo que se observa em alguns campi, paira a anacrônica intenção de
fazer uma revolução para acabar com o capitalismo e a democracia
representativa a partir das salas de aula. Uma volta caricata, nos
trópicos, a Maio de 1968 em Paris. Uma volta como farsa.
Ainda em estado de semiparalisia devido às crises econômica e política, o
governo não reage. O Congresso, pelo mesmo motivo, também — enquanto
cresce a ameaça da perda do ano letivo em universidades federais. Nessas
horas, o princípio da autonomia universitária é usado como escudo
contra justas cobranças da sociedade, que paga a conta por meio de
impostos, e deseja retorno.
A situação é grave e precisaria ser enfrentada também pelo corpo docente
das instituições, onde há pessoas sensatas, preocupadas com o desmonte
das universidades. Mas em silêncio.
extraídaderota2014blogspot
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