por Elio Gaspari Folha de São Paulo
Tendo produzido uma crise econômica e política, a doutora Dilma e o PT
mostram-se dedicados a agravá-la. Chamaram Joaquim Levy para cuidar das
contas e puxaram-lhe o tapete. Chamaram Michel Temer para cuidar da
articulação política e cortaram-lhe as asas.
Nos dois casos, os doutores contribuíram para a própria fritura. Levy
esqueceu-se de traçar a linha da qual não recuaria. Temer saiu-se com a
sibilina declaração de que se precisava de "alguém que tenha capacidade
de reunificar a todos". (Ele?) Por mais que esses episódios tenham feito
barulho, não justificam a encrenca que deles resultou.
Antagonismos fazem parte da rotina de qualquer governo, em qualquer
época. O que distingue a barafunda da doutora Dilma é a sua capacidade
de criar novos problemas magnificando os velhos. O governo não demorou
para perceber a gravidade da crise econômica que alimentou, tentou
negá-la e deu no que deu.
A crise política tem duas peculiaridades. Uma vem do PT, a outra é de
Dilma. O PT não faz alianças, recruta súditos ou sócios. Dilma, por sua
vez, chegou à Presidência da República sem jamais ter vivido o cotidiano
de um Parlamento.
A experiência parlamentar parece uma trivialidade, até um desdouro. Não é
bem assim. Tome-se o exemplo de dois hierarcas do Executivo: Delfim
Netto e Roberto Campos. Como czares da economia, mandaram como ninguém.
Foram para o Congresso e viraram outro tipo de pessoa, mais tolerantes,
livres de algumas certezas que o poder lhes dera. No Executivo, o
sujeito acha uma coisa, manda fazer e ponto final. O Trem-Bala, por
exemplo.
No Congresso, o mesmo sujeito vai para uma reunião, expõe seu ponto de
vista e é contraditado por outro parlamentar, um idiota, talvez ladrão.
Deverá ouvi-lo respeitosamente e habituar-se a perder calado, caso seu
adversário consiga mais votos que ele. No palácio, manda quem pode e
obedece quem tem juízo. No Congresso, manda quem tem maioria.
A falta de experiência parlamentar (o caso de Dilma) ou a incapacidade
de preservar alianças (o caso do PT) influi no metabolismo dos palácios,
transformando-os em bunkers: "Nós estamos certos e todos os outros
estão errados". Em seguida, dentro do bunker, estabelece-se uma
competição de egos.
"Eu estou certo e meu rival dentro do governo é a causa de todos os males."
Desgraçadamente, uma vez criada a mentalidade do bunker, o mundo em
volta deixa de ter importância. Briga-se pela briga. O exemplo extremo
dessa patologia pode ser encontrado no bunker mais famoso de todos os
tempos, o da Chancelaria do 3º Reich, em 1945. Aquilo é que era bunker, a
oito metros de profundidade.
Hitler e seu "núcleo duro" enfurnaram-se nele em janeiro e de lá o
Führer comandava sua guerra, tendo Martin Bormann como seu braço
direito. Velho rival do espalhafatoso marechal Herman Goering, Bormann
teve o seu momento de esplendor no dia 25 de abril e conseguiu demiti-lo
de todos os cargos, expulsando-o do partido.
Os russos estavam a poucos quarteirões de distância. No dia 30 de abril,
o Führer matou-se e, uma semana depois, o poderoso Bormann deixou o
bunker. Enfim, vencera e fora designado testamenteiro de Hitler e chefe
do partido nazista.
Morreu na rua, a pouca distância do bunker.
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