por Vinicius Torres Freire FOLHA DE SÃO PAULO
Todo o mundo deve estar estafado e farto de saber, se não sente na
própria carne, que a economia vive o maior colapso em mais de 20 anos.
Cada baciada de números horríveis, no entanto, suscita um sentimento
ambivalente. Dados os indicadores e o ambiente sociopolítico tóxico,
como a recessão não é ainda maior?
Ou a recessão ainda vai se revelar maior? Amanhã, sai o resultado do
PIB. Por ora, resta esperar com fé que isso que estamos vendo seja o
fundo do poço.
O crescimento do total de dinheiro emprestado pelos bancos chegou
praticamente a zero, soube-se nesta quinta (aumento de 0,3%, descontada a
inflação, em relação a julho do ano passado). Nos bancos privados, o
estoque de crédito cai desde março de 2014, encolhendo agora 4,4%. Na
breve recessão de 2009, o crédito das instituições privadas chegou perto
de estagnar, mas não ao vermelho.
Essa baixa foi muito mais do que compensada pelo aumento do crédito dos
bancos públicos (BNDES, Caixa, BB). Assim, o total de empréstimos
continuou a crescer 10%, no pior momento daquele ano. Agora, acabou o
dinheiro público.
Note-se de passagem que o governo gostou tanto do remédio que se viciou,
estatizando parte adicional do crédito, na prática comprando fatias de
mercado por meio do aumento da dívida pública, criando vários problemas
grandes com uma cajadada só. Fez muito mais dívida pública e, a partir
de 2010, inflacionou o país em um mundo à beira da deflação, o que entre
outras coisas ajudou a piorar ainda mais a situação da indústria, já
asfixiada pelo real forte ("dólar barato"). No final de 2010, os bancos
públicos detinham 42% do total (estoque) de crédito; em julho de 2015,
55%.
A alta do crédito em 2009, enfim, compensou o colapso da renda do
trabalho, que naquele ano foi menor que o da recessão de agora, de
resto.
Decerto em geral é o investimento (ampliação de negócios e de
construção) que acaba por comandar mergulhos e saltos do PIB. Mas os
investimentos estão em colapso também, por motivos que vão bem além do
desânimo econômico.
O sistema político travou, desmorona e não há por ora perspectiva de fim
da agonia. Parte importante do investimento evaporou devido aos efeitos
colaterais do inquérito do petrolão, além dos efeitos secundários da
asfixia financeira da Petrobras. O ajuste fiscal feito inevitavelmente a
machadadas, dado o desastre das contas de Dilma 1, deve talhar de 30% a
40% do investimento federal "em obras".
A crise externa renovada, rodada China, ajuda a manter no chão a confiança econômica, em baixa desde 2013.
No final de 2008, a taxa real de juros básica no mercado estava em pouco
mais de 9% ao ano, um tanto mais alta do que agora (perto de 8%). Como a
economia estava em certa ordem, pelo menos quanto ao arroz com feijão
macroeconômico, os juros caíram para o patamar de 5% em seis meses.
Desta vez é diferente. A taxa real de juros tende a subir até o início
do ano que vem.
Não há crédito, renda, confiança, investimento privado e dinheiro para
gastar no governo —ao contrário, não há, no momento, meios de conter o
aumento do deficit. Há um alívio, ainda mínimo, na melhora das contas
externas.
Talvez isso se chame o fundo do poço. Tomara.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
0 comments:
Postar um comentário