, editorial de O Globo
Presidente Dilma afirma que demorou a perceber a gravidade dos problemas, mas sempre que tomou medidas equivocadas recebeu críticas públicas
Não fosse pela confissão de que, mesmo no ano passado, quando a economia
já desacelerava (teve um crescimento pífio de 0,7%), ela não percebeu a
crise, a entrevista de Dilma ao GLOBO, ao “Estado de S.Paulo” e à
“Folha” não teria qualquer surpresa.
Dizer que não sabia do esquema de corrupção na Petrobras, cujo Conselho
de Administração presidiu, já faz parte do script. Mas admitir que não
detectou problemas na economia sobre os quais há muito tempo analistas e
a imprensa profissional alertavam diz muito da incapacidade da
presidente de ouvir críticas e duvidar de si mesma, características
imprescindíveis para o administrador, na esfera pública ou privada.
Ora, a campanha eleitoral da oposição foi bastante calcada em alertas
para os problemas que se avolumavam na economia. Como os subsídios de
cunho eleitoreiro ao preço de combustíveis e à conta de luz, manobras
insustentáveis que desestabilizavam o caixa da Petrobras — não bastassem
os desfalques do petrolão — e o Tesouro, onde foram bater os
desencontros entre os custos de geração de energia e as tarifas cobradas
ao consumidor.
Pois na primeira reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), do
Banco Central, dias após confirmada a vitória de Dilma nas urnas, os
juros foram remarcados para cima, de 11% para 11,25%. E as taxas não
pararam mais de subir (a Selic está 14,25%), para se contrapor a uma
forte pressão inflacionária, em parte alimentada pelo choque tarifário
que a candidata também dizia do palaque ser uma impossibilidade. Algo
que a oposição faria, mas não ela.
A rigor, desde o final do primeiro governo Lula, em 2005, em que a
recém-empossada ministra da Casa Civil rejeitou, por "rudimentar", um
sensato programa de ajuste das contas públicas que lhe foi encaminhado
pelos ministros da Fazenda e do Planejamento, Antonio Palocci e Paulo
Bernardo, foram colocados pontos de interrogação sobre as ideias
macroeconômicas de Dilma.
O viés intervencionista da presidente já ficara exposto na gestão dela
no Ministério de Minas e Energia. E desarrumaria bastante o setor no seu
primeiro governo. Neste, com Guido Mantega na Fazenda, a presidente
pôde testar na prática o modelo dos sonhos, o “novo marco
macroeconômico”. Sempre sob críticas e alertas públicos.
Não surpreendeu que acelerasse a inflação, tivesse de elevar os juros,
naufragasse a economia numa recessão e fosse forçada a praticar um
ajuste fiscal, contra dogmas ideológicos. E tudo agora ficou ainda mais
complicado devido às turbulências chinesas. A presidente disse que
demorou a perceber a gravidade da crise brasileira. Mas não foi por
falta de aviso.
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