por Vinicius Torres Freire Folha de São Paulo
Não se via aumento tão rápido na quantidade de gente desempregada desde o
tempo das crises fernandinas, de FHC e Collor, é muitíssimo provável. O
número de pessoas sem emprego cresceu 56% em julho, ante julho de 2015.
Em janeiro, crescia ao ritmo de uns 11% ao ano.
"Muitíssimo provável" porque o método de contar o desemprego no IBGE foi um de 1991 a 2002, e outro desde então.
No entanto, feitos alguns ajustes e comparadas apenas a ordem de
magnitude e a rapidez da bola de neve, vimos coisas parecidas apenas
entre maio e agosto de 1992, os meses da derrocada final do governo de
Fernando Collor. Ou entre outubro de 1997 e janeiro de 1998, um dos
vários momentos de crise dos governos de Fernando Henrique Cardoso.
Os inclinados a fazer associações fáceis entre economia e política devem
lembrar, porém, que, nos tempos de Collor, o desastre era geral: era um
país em superinflação, com baixas abissais de PIB per capita e
rendimentos, bem mais pobre e desigual.
Desde Lula, jamais houve parecido com o que ocorre neste ano com o emprego, sob Dilma 2. Nem de longe.
Sempre convém notar também que se trata de uma baixa em relação a níveis
altos de emprego (de "taxa de ocupação"). Ressalte-se, porém, que aqui
se está falando de velocidade de piora. Há um colapso desde janeiro
desde ano.
Os dados divulgados na Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE apontam
ainda um motivo provável e adicional da grande irritação de São Paulo,
em particular da metrópole paulista, com o governo de Dilma Rousseff.
Entre as grandes regiões metropolitanas, foi em São Paulo que a taxa de
desemprego cresceu mais rapidamente, de um ano para cá, ainda que a
desocupação seja menor aqui do que nas capitais nordestinas, como de
costume, aliás (7,9% em São Paulo, ante 12,3% em Salvador, por exemplo).
MAQUIAGEM
A taxa média de desemprego deu um salto, para 7,5%, inédita nesta época
do ano desde a breve recessão de 2009. Em julho de 2014, o desemprego
fora apenas 4,9%.
O colapso da confiança devido ao estelionato eleitoral de Dilma Rousseff
contribuiu para a derrocada. Mais importante, a escassez de trabalho se
deve também ao fim da política de, na prática, comprar emprego com
dívida pública, de dar subsídios e isenções fiscais a empresas, política
econômica de maquiagem executada pelo governo de Dilma 1. Enfim, mais
importante ainda, nas empresas caiu a ficha de que o ajuste econômico
produziria uma recessão ainda mais longa e funda.
No mais, soube-se que o rendimento médio caiu 2,4% sobre julho do ano
passado; que a massa salarial, o total de rendimentos pagos, baixou 3,5%
em um ano.
A proporção de empregos formais baixa em relação ao pico, mas ainda está
perto dos melhores resultados de que se tem notícia. No entanto, menos
emprego e menos carteira assinada devem causar buraco extra nas contas
da Previdência e do governo inteiro, na pindaíba ao ponto de regatear a
antecipação do 13º de aposentados e pensionistas.
A notícia ainda pior é que isso ainda vai longe. O desemprego tende a
aumentar até a segunda metade de 2016, pelo menos. Ou seja, mesmo que "a
economia", o PIB comece a reagir, a sensação térmica nas ruas ainda vai
ser de frio da crise.
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