O esquisitão Bansky, artista britânico cuja identidade é um mistério,
inaugurou na quinta (20) um parque temático chamado Dismaland, uma
brincadeira misturando "dismal" (sombrio, deprimente) com Disneylândia,
que poderia ser traduzido como "Deprê-lândia".
Lá, em uma praia da costa oeste inglesa, tudo está do avesso. Obras de
arte subvertem as Disneys da vida, com a Cinderela morta num acidente de
abóbora-carruagem acossada por paparazzi, a Morte no carrinho de
bate-bate e por aí vai.
Parece Brasília. A crise política que implodiu o governo tempera de
forma algo surrealista a desgraça que se abate sobre a vida real.
A política não tolera o vácuo. A debacle de Eduardo Cunha, cuja real
extensão ainda precisa ser comprovada pelos fatos além da torcida,
sugere uma Câmara insolvente.
O Planalto, ele mesmo um holograma tentando voltar ao reino da matéria,
jogou as fichas no Senado de Renan Calheiros para manter a aparência de
governabilidade. Não vai dar certo no médio prazo.
O PSDB mantém suas esperanças no impedimento de Dilma e desenha um pacto
com Cunha que poderá custar caro. Quem não gosta do deputado logo fará a
analogia com a temática de Goethe, mas só um ingênuo pode acreditar em
mocinhos e bandidos na Dismaland do cerrado.
Sobressai na paisagem sombria a figura de Michel Temer, alienado de
forma incompreensível por Dilma e seu lugar-tenente, Mercadante.
Este pode ter sido o último erro da dupla. Não foi por acaso que poucos
no governo comemoraram a denúncia de Rodrigo Janot contra Cunha: o jogo
com o PMDB está perdido em casa, e o desembarque espreita.
Essas linhas estão ora paralelas, ora entrelaçadas. Gilmar Mendes
tratou, com seu pedido de investigação sobre o papel do petrolão na
campanha de 2014, de catalisar o processo a permitir a confluência
delas. A bola está no colo de Janot agora.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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