Pedro do Coutto
A Operação Lava-Jato, desenvolvida pela Polícia Federal e Procuradoria Geral da República a partir da explosão do gigantesco escândalo na Petrobrás e das prisões decretadas pelo juiz Sérgio Moro, revelou ao país, e também ao mundo, os tentáculos de uma incrível rede de corrupção, mas não somente isso: expôs também como os ladrões roubam o Brasil através de remessas ilegais de dinheiro para o exterior.
Este aspecto, ainda não totalmente iluminado em toda sua profundidade, começou a ser revelado pelo repórter Graciliano Rocha, Folha de São Paulo de segunda-feira, ao destacar vinculações de alguns bancos que operam na Suíça com depósitos decorrentes de propinas pagas por contratos superfaturados, cujos desembolsos – é claro – saíram dos cofres da maior empresa brasileira, a estatal onde se implantou a teia de roubos numa sequência que durou em torno de dez anos seguidos.
Graciliano Rocha destaca que, em 2007, Paulo Roberto Costa, então diretor da Petrobrás, abriu uma conta em Genebra, frisou, fazendo soar o alarme do HSBC Private Bank. O Banco classificou Roberto Costa como “pessoa politicamente exposta”. A classificação fala por si mesma. Entretanto, de instituições financeiras escoaram dinheiro desviado da Petrobrás. Isso de um lado.
De outro, mais de cem contas bancárias entraram no radar dos investigadores (suíços) e, até agora, já bloquearam o equivalente a 1 bilhão e 200 milhões de reais. Porém o número de contas desvendadas segue um ritmo crescente, segundo a própria Procuradoria Geral da Suíça, disse o repórter.
MUITO DINHEIRO
Por esse caminho, podemos fazer uma ideia inicial da dimensão do volume acumulado proveniente das ações de ladrões de casaca, em recursos que saíram da economia brasileira e foram acrescentados ao poderio e à influência dos bancos internacionais.
Como tais depósitos só podem ter sido feitos em dólares ou euros, onde estava a fiscalização do Banco Central? E os ladrões do petróleo não roubaram apenas o governo brasileiro e diretamente o Estado, mas também indiretamente invadiram os bolsos de toda a população brasileira. Caso nítido de evasão ilegal de divisas. Parte do Produto Interno Bruto foi transferido para poderosas economias sediadas no exterior.
Calcule-se o total de operações como essas denunciadas agora através das décadas para encontrar uma das fortes razões básicas do subdesenvolvimento nacional.
TRAIÇÃO DO PAÍS
O dinheiro produzido aqui vai veloz e sombriamente fortalecer outras sociedades. Por isso, a distribuição de renda não é condizente com as legítimas reivindicações da sociedade brasileira, iludida seguida e sordidamente por manipuladores de números e índices financeiros. Não se trata, no fundo, de um caso de roubo, mas sim de roubo vinculado à traição dos interesses brasileiros.
Graciliano Rocha acrescenta que Pedro Barusco, ex gerente da Petrobrás, afirmou que Denise Kos, que foi executiva de um grande banco, e agora atua como executiva de outro, o ajudou a levar 97 milhões de dólares originários de propinas por contratos superfaturados da Petrobrás. Assinalou Barusco que Denise Kos fez o dinheiro circular por quatro bancos diferentes (na tentativa de apagar o rastro) e também facilitou a abertura de contas em seu nome. Assim se escreve a história. Cada página é um novo capítulo. Cada episódio uma comprovação do anterior, no caso do assalto à Petrobrás.
OPERAÇÕES SECRETAS
A sequência, além do mais, proporcionou uma visão moderna dos esquemas internacionais que dão cobertura aos roubos como os praticados no Brasil. Até pouco tempo, tais operações eram tão secretas como as brasileiras, não somente na Suíça, mas também em outros países. A cortina do segredo foi levantada; os atores vão aparecer, como é inevitável. Com a Internet, a névoa do sigilo dissolve-se no ar. O que existe aparece.
EXTRAÍDADATRIBUNADAINTERNET
0 comments:
Postar um comentário