por Vinicius Mota FOLHA DE SÃO PAULO
O acordão fracassou. A tentativa de conchavo feita nos gabinetes
escurecidos entre integrantes do meio empresarial e do político, para
dar sobrevida tutelada à Presidência Rousseff, arruinou-se com menos de
20 dias de existência.
A manutenção da pressão nas ruas contra Dilma, o distanciamento de
Michel Temer e do PMDB em relação ao Planalto e a certeza de que a
economia e o petrolão produzirão novas avarias na nave presidencial e
petista inviabilizaram o acerto.
O acordão, velho cacoete elitista de arrancar privilégios de governos
fracos, não pode ser financiado por um Tesouro em farrapos. Não pode,
sobretudo, ser justificado à luz do que ocorre hoje no Brasil.
Esta sublime catarse republicana não permite que prospere a prática das
conversas ao pé do ouvido, das mensagens assopradas, dos recados de
gente influente e dos gestos de associações empresariais financiadas à
moda varguista.
Os atalhos à aplicação impessoal da lei e à ação mecânica das
instituições de controle, se não foram de todo bloqueados, estão muito
mais custosos de ser trilhados.
Há uma crise institucional, mas não no sentido que políticos
desesperados para salvar o próprio pescoço balbuciam por aí. A crise é
de afirmação, quiçá de consolidação, das instituições da República.
Eduardo Cunha poderá livrar-se das fundadas acusações contra ele apenas
pela via regular do contraditório e do devido processo legal. As contas
da campanha de Dilma Rousseff à reeleição não escaparão de escrutínio,
assim como as manobras que permitiram ao Executivo federal uma soberba
gastança no ano eleitoral de 2014.
Se alguém pensa que se controla o desfecho político dessa eclosão
multicolorida de atuações institucionais, está iludido e engana seus
interlocutores. O futuro, mesmo o mais próximo, está aberto. A única
certeza que pode ser dita sobre ele é que se desenvolverá em praça
pública.
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