editorial da Folha de São Paulo
A presidente Dilma Rousseff (PT), quem diria, reconheceu que errou diante da crise econômica.
Segundo declarou em entrevista a esta Folha e aos jornais "O
Globo" e "O Estado de S. Paulo", demorou para perceber que a situação
poderia ser mais grave do que imaginava. "Talvez nós tivéssemos de ter
começado a fazer uma inflexão antes", completou. Se não o fez, foi
porque "não tinha indício de uma coisa dessa envergadura".
Mesmo os mais crédulos petistas terão dificuldades para acreditar na
versão presidencial –mas, num paradoxo fácil de entender, preferirão se
deixar enganar por esse enredo fantasioso. Do contrário, precisarão
admitir que Dilma não enxergou o óbvio.
Durante todo seu primeiro mandato, não faltaram alertas sobre o
esgotamento do modelo econômico que patrocinou. Em 2014, a arrecadação
já caía de forma acelerada; era claro que fortes ajustes seriam
inevitáveis.
Na disputa eleitoral, a campanha da petista até criou um personagem
ranzinza para zombar de quem criticava o governo. Tratava-se do boneco
Pessimildo, que talvez hoje a presidente queira contratar como
conselheiro.
A despeito do muito que parece haver de insincero no mea-culpa de Dilma,
a verdade é que, para um país imerso em profunda crise, interessa menos
o que se diz do passado e mais o que se faz em relação ao futuro.
Quanto a isso, a presidente deu sinais que merecem ser acompanhados com
atenção.
Indicou, por exemplo, que apoia certas reformas essenciais, como a da
Previdência. É sem dúvida positivo que Dilma tenha se alinhado ao
diagnóstico de que o país tem um problema com o envelhecimento da
população e que é necessário reduzir o peso dos gastos obrigatórios no
Orçamento –55% deles referentes a aposentadorias.
Embora não tenha ido ao detalhe, presume-se que se trata de aval à
proposta de estabelecer uma idade mínima para a aposentadoria que consta
da Agenda Brasil, elaborada sob liderança política do Senado para
preencher o vazio da pauta presidencial.
Dilma também endossou a promessa de cortar dez ministérios e mil cargos
comissionados (5% do total). Anunciada pelo ministro do Planejamento,
Nelson Barbosa, a medida, passe o trocadilho, foi mal planejada: não se
sabe sequer quais pastas serão eliminadas, muito menos que economia a
iniciativa poderá promover.
Ainda assim, há algo de simbólico nesse possível corte –e a presidente
mais impopular da história pode tentar recuperar, com esse gesto, alguma
conexão com as ruas.
Será difícil, para não dizer impossível. Escamotear a verdade ou
descumprir recentes promessas, contudo, de nada ajudarão Dilma Rousseff a
retomar prestígio e credibilidade em níveis mínimos para fazer avançar
uma agenda de reformas imprescindíveis ao país.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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