por Vinicius Torres Freire Folha de São Paulo
Sob Dilma Rousseff, o Brasil terá o primeiro biênio de recessão desde
1930-31, caso se confirmem as previsões para 2015-16. É verdade. Não
quer dizer nada.
A maldição do biênio é uma das tantas a que a mentalidade "redes
sociais" de debate político recorre a fim de avacalhar ainda mais a
desgraça econômica dos anos Dilma. Causa alguma sensação desde a semana
passada, quando as estimativas "de mercado" compiladas pelo Banco
Central passaram a registrar recessão também em 2016.
Além de em si mesmo ignorar história e salsichas estatísticas do PIB, a
falação do biênio é uma das tantas birutices estatísticas que contribuem
para desviar a atenção do debate de um rolo econômico, social e
político que não se via desde os tempos da hiperinflação, anos 1980-90.
Seja como for, os anos de grande massacre econômico, de pobres em
particular, ocorreram em torno de 1983, 1989 e 1992. Mas convém lembrar
ainda que: 1) PIB é medida imprecisa até para avaliar a variação do
bem-estar material; 2) o PIB brasileiro passou a ser calculado
ordenadamente a partir de 1947. Há estimativas retrógradas até 1901. Já
não é fácil comparar, sem mais, crescimentos do PIB de 1980 a 1995.
Imagine-se na República Velha.
Mais importante, por que falar de PIB e não de PIB per capita (o PIB
dividido pela população)? Estimativas anuais antigas de população são
também imprecisas, certo. Mas é fácil perceber a diferença importante.
Se o PIB cresce 1% e a população aumenta 3%, ficamos mais pobres, na
média (o PIB, a "renda", per capita cai). Se a população também cresce
1%, ficamos na mesma.
Por que biênio? Em um biênio é mais fácil criar ilusões ou demagogias,
planos econômicos estelionatários, como em 1986, ou recuperações
fajutas, como em 1982. Enfim, o PIB per capita de 1994 estava ainda mais
ou menos na mesma que em 1980.
O biênio 1981-1982 não foi de recessão, pois. Mas o triênio 1981-1983
viu a maior queda do PIB per capita da história registrada ou estimada
(desde 1901): 12%. A seguir, vem o triênio Collor, de 1990-92, baixa de
8,4%.
Pelas previsões de PIB e população, o PIB per capita no triênio dilmiano
de 2014-2016 baixaria 4,4%. Menor, embora seja um grande (mal) feito
quando se leva em conta que a economia até que não estava tão
desarrumada lá por 2010, dados os nossos padrões primitivos.
Mesmo per capita, por cabeça, o PIB diz pouco. Além da renda baixa, 1989
foi um ano campeão de desigualdade, pelo menos desde 1977, quando os
dados são mais precisos. A metade mais pobre da população ficava então
com 10,5% da renda nacional (agora, fica com uns 18%); os 20% mais
pobres, com 2% (agora, com 4%). Se somos uma indecência desigual ainda
em 2015, imagine-se o horror de 1989.
Não por acaso, a crise e o desgaste de todas as lideranças políticas
estabelecidas levaram o eleitorado a escolher "outsiders" para o segundo
turno de 1989, Collor e Lula, varrendo para sempre as figuras
restantes da República de 1946, da ditadura e os líderes maiores da redemocratização. A virada não se deveu apenas à "economia, seu burro!" (nunca é assim), mas à conjunção de horror socioeconômico e falência da configuração política velha.
restantes da República de 1946, da ditadura e os líderes maiores da redemocratização. A virada não se deveu apenas à "economia, seu burro!" (nunca é assim), mas à conjunção de horror socioeconômico e falência da configuração política velha.
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