SHACHA CAMON – (*) Correio Braziliense
Estava sentado ouvindo o pronunciamento dela no ato de posse perante o parlamento:
“Um dos grandes debates do nosso tempo é sobre quanto do seu dinheiro
deve ser gasto pelo Estado e com quanto você deve ficar para gastar com
sua família. Não nos esqueçamos nunca desta verdade fundamental: o
Estado não tem outra fonte de recursos além do dinheiro que as pessoas
ganham por si próprias. Se o Estado deseja gastar mais ele só pode
fazê-lo tomando emprestado sua poupança ou lhe cobrando mais tributos. E
não adianta pensar que outro alguém irá pagar. Esse ‘alguém’ é você!
Não existe essa coisa de ‘dinheiro público’. Existe apenas o dinheiro
dos pagadores de impostos.”
“A prosperidade não virá por inventarmos mais e mais
programas generosos de gastos públicos. Você não enriquece por pedir
outro talão de cheques ao banco. E nenhuma nação jamais se tornou
próspera por tributar seus cidadãos além de sua capacidade de pagar. Nós
temos o dever de garantir que cada centavo arrecadado com a tributação
seja gasto bem e sabiamente, pois nosso partido é dedicado à boa
economia doméstica. Proteger a carteira dos cidadãos, proteger os
serviços públicos, essas são as nossas duas tarefas básicas e ambas
devem ser conciliadas. Como seria prazeroso e popular dizer ‘gaste mais
nisso, gaste mais naquilo’. Todos nós temos causas favoritas. Eu pelo
menos tenho. Mas alguém tem que fazer cuidadosamente as contas. Toda
empresa tem que fazê-lo, toda dona de casa tem que fazê-lo, todo governo
deve fazê-lo. O meu irá fazê-lo”.
Dei um salto e, entusiasmado, pus-me a aplaudi-la. Estávamos perante
uma governante firme e sábia. Mas, aí, acordei e me dei conta que
estivera no parlamento britânico ouvindo o discurso de Margaret
Thatcher... Reza a história que a famosa ex-primeira-ministra inglesa
salvou as finanças e a economia do Reino Unido, além de dado uma tunda
histórica nos movimentos sociais e sindicatos trabalhistas.
Ela foi o reverso da nossa presidente, com décadas de antecedência e,
por isso, estamos nessa miserável situação, numa crise de confiança
arrastada e irremediável, perdidos no imprudente presidencialismo de
coalizão, em que a base de sustentação do governo o desestabiliza
progressivamente, base essa construída com espeque na corrupção.
Em termos populares, a situação do governo é a seguinte: “Se correr, o
bicho pega; se ficar o bicho come”. Noutros termos, elegantemente
gregos, vivemos um dilema, ainda sem saída, que se arrasta há 10 meses.
As crises — a etimologia é também grega — exigem soluções efetivas e
ágeis. Não vale aqui choramingar e dizer que devíamos ter adotado o
parlamentarismo, em que basta derrubar o gabinete para resolver o dilema
do governante inepto.
Sequer da renúncia podemos cogitar. Ela é tão prepotente e de poucas
luzes, que só pensa em si: “Aguento pressões!”; “Sou forte!”; “Tenho
legitimidade!”. Antes não tivesse, estaríamos livres das pragas que ela
semeou pelos brasis afora. O vice-presidente, em ato de autocrítica,
reconheceu a gravidade da situação e apelou para que alguém apareça e
nos una, ou seja, una as forças políticas da nação para resolver a grave
crise criada pelo governo do PT. O pior, é que ela acha ser essa
pessoa. Ela é justamente quem a todos desune.
Quem é essa pessoa? É a pergunta que todos nós nos fazemos. Um
governo de salvação nacional exige a saída de Dilma, que nunca teve
estofo para governar a nação. Se não há um salvador da pátria, que pelo
menos se tire do governo quem a está levando para o buraco.
A crise continua e continuará enquanto Dilma insistir em governar. Se
foi ela, com suas políticas malucas, na Petrobras, segurando preços; na
Eletrobrás, desmanchando o sistema de distribuição; e na economia,
gastando mundos e fundos para incentivar o consumismo e aumentar a
dívida pública, como é que pode ser a pessoa indicada para unir todos e
desfazer os malfeitos?
Ao cabo, a agenda proposta por Renan é retórica, cortina de fumaça,
aparente pacto de governabilidade e improvável retomada da economia. É
um erro brutal tentar salvar o que não deve ser salvo, como disse FHC. O
Brasil precisa de um choque de liberalismo. Ora, com Dilma e o PT,
inexistem condições objetivas e confiança para retomar o crescimento.
Dois ciclos estão encerrados: o do recente crescimento mundial, de
capitais fartos e vendas maciças de commodities, que catapultou os
últimos 12 anos de lulopetismo e ele próprio, primário e populista.
Estamos vendo passar o enterro. Falta fazer a cova e providenciar o
sepultamento da era Lula.
A ditadura de Vargas (15 anos) e a militar (21 anos) colapsaram
rapidamente. O lulopetismo não deve, não pode, perdurar por mais 3 anos e
meio, sob pena de destruir a nação, a menos que ela se torne uma rainha
da Inglaterra (reina, mas não governa), panorama impensável, levando-se
em conta a personalidade da nossa presidente.
(*) Advogado, coordenador da especialização em direito tributário das
Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e da UFRJ
EXTRAÍDADEAVERDADESUFOCADA
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