por Miriam Leitão O GLOBO
E agora? Fazer o quê? A presidente Dilma tem mais 40 meses de mandato
pela frente e seu governo está pendurado no ar, sem apoio da base
parlamentar, com a maior taxa de rejeição popular da história recente, e
o país afundado na crise econômica. “Descumprir a Constituição,
jamais”, ensinou Ulysses Guimarães. Esse tem que ser o norte das
lideranças políticas nesta temporada de aflição. Não há atalhos.
Há caminhos, mas eles não estão abertos no momento. A Constituição
estabelece formas possíveis de destituição de um presidente eleito pelo
voto direto, como ocorreu com Fernando Collor de Mello. Houve
comprovação de recursos ilícitos pagando inclusive suas despesas
pessoais. Não foi apenas pelo Fiat Elba. Agora, no entanto, não há a
mesma suspeita em relação à presidente Dilma. A dúvida permanece em
relação ao financiamento da sua campanha e a Lava-Jato pode trazer fatos
à luz. A ideia de fazer novas eleições é tão sem base que até o PSDB,
que a defendeu brevemente, já a abandonou. A renúncia, proposta pelo
ex-presidente Fernando Henrique, é uma decisão que cabe à presidente
Dilma. Apenas a ela.
O que é preciso ficar claro é que se não houver condições de trilhar
caminhos constitucionais, a presidente Dilma terá que permanecer no seu
posto até o último dia de 2018. Um longo tempo para este
descontentamento. As empresas terão que fazer seus projetos em um
cenário de governo fraco prolongado. A oposição deve estar nas ruas com a
população, mas suas teses não podem ser formuladas no calor de uma
manifestação, mas sim diante do livro que nos norteia desde 1988.
Rupturas e encerramento antecipado de mandatos existem na democracia,
aqui e em qualquer país democrático, mas desde que seja expressamente
seguido o ordenamento jurídico do país.
Nas manifestações, existem pessoas que pedem golpe e até a repetição da
aventura militar. Isso é extemporâneo e, felizmente, é impossível
ocorrer no Brasil de hoje. Nem os militares querem, nem a maioria dos
civis. Quem pede a repetição de processos que já nos infelicitaram por
um tempo longo demais é uma minoria histriônica e que sempre gostou
desse tipo de regime. A democracia tolera as opiniões divergentes,
inclusive esta. Ao governo, interessa confundir e mostrar esse grupo
como sendo a representação da maioria, porque isso estigmatiza o
movimento legítimo de ir para as ruas demonstrar a revolta com o governo
e o repúdio à corrupção. As pessoas têm o direito de ir para as ruas
porque sofrem o desconforto econômico e a indignação diante dos obscuros
negócios com o patrimônio público.
Nada do que acontece ao PT e à presidente Dilma é fruto de conspiração.
Eles merecem o desprezo que recebem. O PT foi além da imaginação no
rompimento de todas as normas de conduta minimamente aceitáveis. O
partido usou o poder temporário para ordenhar as empresas e órgãos
públicos, extrair dinheiro para permanecer no poder. Usou o Estado para
garantir o poder. Alguns dos seus dirigentes fizeram mais que isso.
Na economia, o governo Dilma colhe o que plantou. Equivocou-se, ignorou
alertas, mostrou um país cenográfico na campanha, tomou medidas mirando o
palanque e não a lógica econômica e energética. Os erros de política
econômica do PT começaram no governo Lula, no momento em que o partido
assumiu suas verdadeiras crenças.
O PT realmente acredita que ajudando setores escolhidos com juros
subsidiados, dados por bancos públicos, o país retoma o crescimento. O
partido nunca entendeu a lógica que levou o Brasil a se livrar da
hiperinflação e frequentemente adota medidas que conspiram contra a
estabilidade conquistada há 21 anos. Ele não participou, e até combateu,
o processo de saneamento das contas públicas que levou à Lei de
Responsabilidade Fiscal. Ele define com o nome bonito de
“desenvolvimentismo” o que é, na verdade, descontrole fiscal, tolerância
com a inflação e transferência de recursos para as empresas amigas
através de juros subsidiados. As ideias petistas para a economia são
erradas e por isso deram errado. Simples assim.
Contudo, as urnas elegeram o PT para mais um mandato presidencial e, a
menos que se configurem as condições constitucionais para a deposição da
presidente Dilma, ela governará. Foi isso que o país decidiu na longa
noite que atravessou buscando a democracia.
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