Jornalista Andrade Junior

sábado, 1 de agosto de 2015

Situação da China só tende a piorar, com reflexos no Brasil

Carlos Newton


Há certo tipo de analista que acredita em milagres, ainda pensa que existem verdades absolutas. Um bom exemplo são as bobagens que nos últimos anos tinham sendo escritas sobre a economia da China. Os comentaristas pareciam embriagados pelo crescimento do PIB chinês, que amedrontava o mundo e ameaçava ultrapassar até mesmo os Estados Unidos.
Acontece que Economia não é ciência exata, muito pelo contrário. Trata-se de uma ciência social literalmente sujeita a chuvas e trovoadas, sem regras inflexíveis, pois cada caso é um caso, a solução que se aplica num país pode ser trágica em outro, daqui a pouco a Economia vai ter mais teorias do que a Psicanálise.
Pois os analistas achavam que a economia chinesa seria à prova de crises. Era como se o planejamento central do comunismo pudesse estruturar de tal forma o capitalismo que os dois se uniriam e seriam felizes para sempre, tipo raríssimos casais gays, e não me chamem de homofóbico, por gentileza…
NÃO HÁ REGIME IDEAL
O fato é que o ser humano é errado pela própria natureza, a perfeição é apenas uma meta, com diz Gilberto Gil, e o tal modelo chinês já estava se sustentando numa espécie de autofagia, com a criação de bolhas econômicas e tudo o mais. A primeira crise foi no começo de julho, esta é a segunda. Pode até haver acomodação a curto prazo, mas outras crises virão, podem ter certeza. Não existe regime ideal, por isso discutir capitalismo e comunismo a esta altura do campeonato é pura perda de tempo.
O governo chinês está como barata tonta. O jornalista Jamil Anderlini, do Financial Times, diz que as medidas de intervenção sem precedentes, adotadas ao longo dos últimos 30 dias, incluem a proibição de vendas a descoberto e ofertas públicas iniciais, compras forçadas de ações por veículos estatais de investimento, proibição de vendas por grandes acionistas e apoio direto do banco central em forma de crédito.
Por três semanas consecutivas, o índice de referência do mercado de ações chinês vinha se recuperando da queda do começo de julho, quando o governo revelou a maioria dessas medidas, depois de um colapso de 30% no valor agregado das ações do mercado em menos de um mês. Até o começo da noite de anteontem, as autoridades não haviam se pronunciado quanto ao que planejam fazer a seguir, e os funcionários do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários se recusaram a responder quaisquer perguntas, quando contatados pelo “Financial Times”, bem ao estilo chinês.
MODELO ESGOTADO
O fato é que o modelo está se esgotando. No início, tudo eram flores para os capitalistas ocidentais. A China não tinha leis ambientais, direitos trabalhistas rigorosos nem previdência. O governo aceitou que indústrias altamente poluidoras, proibidas nos países de origem, se instalassem no país e o povo trabalhasse para elas por salários vis. Mas de repente, não dá jamais para segurar, como dizia Gonzaguinha.
Se o governo reconhece que na China a poluição mata 400 mil pessoas por ano, podemos multiplicar este número por 10 ou 20. Para ser realizada a Olimpíada em Pequim, as fábricas poluidoras foram fechadas com antecedência de um mês. O Rio Amarelo hoje é marrom, o problema é gravíssimo em todas as regiões industriais.
Ao mesmo tempo, os trabalhadores querem direitos trabalhistas, a Previdência teve de ser implantada, mas por enquanto quase ninguém se aposenta, apenas desconta, o governo enche os cofres.
ESTATÍSTICAS MANIPULADAS
A China cresceu em 7,4% no ano passado, seu mais desempenho em 24 anos, e Pequim vai ter de batalhar para atingir sua meta de “cerca de 7%” para este ano, depois que a economia cresceu exatos 7% em cada um dos dois primeiros trimestres. O que demonstra que na China a estatística ainda é a arte de torturar os números até que eles confessem o que você quer ouvir.
A crise da China ameaça o Brasil e o mundo. É bom que nos acautelemos e procuremos outros mercados, se é que existem. Mas o governo não está interessado nisso, a única preocupação é manter dona Dilma sentada naquela cadeira.








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