MIRANDA SÁ
“Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto
tempo a tua loucura há de zombar de nós?” (Marcus Tullius Cicero)
O
que nos chega ao exame dos fatos é a versão dos inimigos de Catilina,
tal como nos ensinou o grande Machado de Assis no seu romance Quincas
Borba: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.
O
vencedor, Cícero, é por demais conhecido; quanto a Catilina há apenas
retalhos do seu perfil. Foi amigo de Júlio César e de Crasso, e seguiu a
carreira política, como questor, pretor e governador da África.
A
briga dos dois começou quando Catilina candidatou-se a cônsul e foi
derrotado por Cícero. A derrota se deveu à acusação de que ele desejava a
volta da monarquia, conspirando com jovens patrícios ambiciosos e com
os gauleses insatisfeitos com a administração de Murena, indicado por
Cícero.
Levando
à nuvem a verdade histórica e mesmo a sua explicação, o que restou
foram os discursos do orador ímpar que foi Cícero. Nos meus tempos de
ginásio (2º grau) a gente estudava latim, e as peças mais apreciadas
eram justamente as quatro ‘Catilinárias’, onde aprendíamos a força das
palavras.
Nos
vestibulares para Direito, também entrava o latim e, consequentemente,
Cícero; e o verbete ‘catilinária’ compõe os dicionários como acusação
violenta e eloquente, censura, repreensão veemente.
Quando
cobri as sessões da Câmara dos Deputados, ainda no Rio, no Palácio
Tiradentes, ouvi muitos discursos com frases tiradas das Catilinárias, e
uma delas era repetida quase sempre: “Oh, tempos, oh, costumes”.
O
tempo e os costumes de agora nos fazem lamentar a falta de um grande
orador no Congresso Nacional. Falta alguém para traduzir o sentimento
indignado do povo contra o domínio do mal representado pela dupla nociva
de Lula e Dilma; falta alguém que acuse diretamente a roubalheira e a
incompetência com a força da razão.
Lembro
o capítulo da História do Brasil em que o paraibano José Américo de
Almeida semanas antes do golpe de 1937 verberou contra o governo Getúlio
Vargas: “É preciso que alguém fale, e fale alto, e diga tudo, custe o
que custar!”
Reconheço
que não faltam parlamentares oposicionistas atacando o insano governo
Dilma. Há muitos, e eu até tenho me surpreendido com a qualidade de
alguns jovens deputados e senadores que assisto pela TV. A falha está no
uso de uma linguagem que o povo entenda, dizendo tudo, trocando em
miúdos o que os assaltantes do patrimônio público fazem no Brasil.
É
preciso traduzir para o povo as alianças espúrias do lulo-petismo com
ditadores, terroristas e até com o crime organizado. A arte de discursar
manifestando com discernimento precisa ser levada às massas.
Para
desmascarar a pelegagem corrupta que ocupa o poder repudiado por 93% do
povo brasileiro estaríamos melhor com a oratória elegante de um Carlos
Lacerda, Flores da Cunha, João Mangabeira e Vieira de Melo ou a vibração
contundente de um Leonel Brizola.
Lembro
que a primeira Catilinária foi um improviso de Cícero cara a cara com
Catilina, que poderia ser dirigida hoje à organização criminosa que
domina o País e ao golpismo sórdido de Lula da Silva, com as mesmas
palavras: “Não vês que a tua conspiração já está dominada por todos que a
conhecem?”
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