por Bernardo Mello Franco Folha de São Paulo
A prisão do presidente da Eletronuclear mostra que a Lava Jato
ultrapassou as fronteiras da Petrobras. A investigação chegou com força
ao setor elétrico, que concentra alguns dos maiores investimentos do
governo federal. Ao que tudo indica, o petrolão era só o começo.
O enredo da nova série, já chamada de eletrolão, parece reprise da
anterior. O governo repartia as estatais entre os partidos aliados. As
estatais repartiam os contratos entre as empreiteiras. As empreiteiras
repartiam a propina entre os dirigentes das estatais e seus padrinhos em
Brasília.
O último elo da partilha são os políticos, que ainda não apareceram na
história. "É possível que no avanço das investigações a gente chegue a
isso", disse o delegado Igor Romário de Paula. Para bons entendedores, o
recado não poderia ser mais claro.
No início do governo Lula, o setor elétrico era propriedade do PT. Dilma
Rousseff, ainda pouco conhecida, comandava o Ministério de Minas e
Energia. Depois do mensalão, a pasta passou ao controle do PMDB. Foi
chefiada por figuras como Silas Rondeau e Edison Lobão, ambos aliados do
ex-presidente José Sarney.
Rondeau caiu ao ser citado na Operação Navalha. Lobão, que voltou ao
Senado, é investigado na Lava Jato. Estava no ministério quando a
Eletronuclear licitou as obras de Angra 3, novo foco da investigação.
Segundo o delator Dalton Avancini, a partilha beneficiou sete
empreiteiras. "Já havia um acerto entre os consórcios com a prévia
definição de quem ganharia cada pacote", contou. Depois, as empresa
pagariam propina a dirigentes da estatal e ao PMDB.
Apesar do enredo repetido, o caso da Eletronuclear traz uma novidade. O
presidente da estatal, Othon Luiz Pinheiro da Silva, é vice-almirante
reformado.
Sua prisão, sob suspeita de embolsar R$ 4,5 milhões, serve de alerta a
quem pensa que uma "intervenção militar" salvaria o país da corrupção.
Em tempo: na ditadura, nunca haveria espaço para uma operação como a
Lava Jato.
extraídaderota2014blogspot
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