por Eliane Cantanhêde O Estado de São Paulo
Quem não tem cão caça com gato e, se o encontro com Fernando Henrique
Cardoso não colou, a presidente Dilma Rousseff corre atrás dos
governadores governistas e de oposição. Vai acabar sendo um teatro,
porque os Estados estão na maior pindaíba e vão pedir mundos e fundos,
mas o governo federal está no pior dos mundos, totalmente sem fundos, e
não tem lá muito o que oferecer.
Os 27 governadores receberam na segunda-feira à noite o convite da
presidente para a reunião, com a seguinte pauta genérica:
governabilidade, responsabilidade fiscal e colaboração federativa. Em
bom e claro português, deduz-se que o objetivo de Dilma não é dar, é
pedir. Se querem dinheiro, os governadores vão ouvir promessas de
reforço no ICMS (o imposto estadual), alguma sinalização para destravar
as operações de crédito no exterior e – aí, sim, o que importa ao
Planalto – um grito de socorro disfarçado de Dilma contra o risco de
impeachment.
Quando se fala na crise econômica e nos desdobramentos da crise política
e ética, as atenções se concentram em Brasília e nos dados
macroeconômicos, mas a crise varre é o mundo real, onde as pessoas
vivem, moram, estudam, trabalham, se locomovem, pagam cada vez mais caro
na feira e, não raro, comem o pão que o diabo amassou. Ou seja, os
atingidos em cheio são Estados, municípios, seus cidadãos e... seus
governos.
O Nordeste, por exemplo, vive uma triste reviravolta de expectativas.
Segundo o governador de Pernambuco, o economista Paulo Câmara, a crise,
que já é braba em si, está sendo agravada por cinco anos consecutivos de
seca e pelo sufoco da Petrobrás e das empreiteiras que param obras,
descumprem contratos e pelo impacto em serviços. Por isso, lembra, a
metade dos 350 mil desempregados do primeiro semestre em todo o País
estão no Nordeste que, do ponto de vista político, é muito emblemático.
Com Lula e os ventos favoráveis, a economia disparou, os empregos
apareceram e cresceram, as perspectivas eram muito otimistas e a
inclusão social era visível. E foi ali que o PT, Lula e depois Dilma
Rousseff colheram recordes sucessivos de votos. Isso, como diz Câmara,
mudou drasticamente. Segundo o Datafolha de 18 de março, o governo Dilma
tem 16% de aprovação e 55% de rejeição no Nordeste. Pela CNT-MDA de 21
de julho, são 8,2% de aprovação e 69,7% de rejeição. Como se vê, os
nordestinos também andam de mal com o governo e com Dilma.
Apesar disso, nenhum governador quer, por ora, comprar briga com Dilma e
com o governo federal num País tão centralizado, muito menos neste
momento em que a presidente convida os governadores para discutir a tal
“colaboração federativa”, mas corta R$ 8 bilhões adicionais do
Orçamento. Os nove governadores nordestinos fizeram manifestação
pró-Dilma no Planalto em 25 de março, assinaram um manifesto de apoio em
17 de julho e a posse do novo presidente da Sudene, ex-prefeito João
Paulo (PT), ontem em Recife, virou um ato de desagravo a Dilma.
Nada disso, porém, resolve dois problemas essenciais: a gravidade da
crise e a imensa rejeição de Dilma até mesmo no maior reduto petista do
País, que é o Nordeste. Dilma pode fazer quantas reuniões quiser com os
governadores, quantas viagens quiser à região, reaparecer quantas vezes
quiser nos programas e inserções de TV do PT, mas, sem resolver a crise,
recuperar credibilidade e abrir horizontes, nada muda. Em algum
momento, os governadores tendem a fazer o que o PMDB faz: entre o
pragmatismo pró-Dilma e a pressão popular anti-Dilma, para onde será que
eles irão?
Governadores podem muito, mas em épocas de crise valem tanto quanto
Dilma na política agora, ou seja, muito pouco. E, se hoje estão ocupados
em defender Dilma, amanhã terão de se preocupar em salvar a própria
popularidade, ou seja, o próprio pescoço.
extraídaderota2014blogspot
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