por Sérgio Malbergier Folha de São Paulo
Voltamos. O Brasil anda para trás. O PIB é prova. Nossa economia
produzirá menos neste ano. Menos pessoas estarão empregadas. Menos bens
serão vendidos. Fala-se novamente em década perdida. Para quem passou
por uma, dói só de escrever.
Dilma levou quatro anos destruindo a herança de FHC e Lula. Passará os
próximos quatro tentando consertar o que fez. Se der tudo certo,
estaremos em 2018 onde estávamos em 2010.
Depois de vender paraíso, o governo entregou purgatório. A queda brusca
na realidade explica o espetáculo da impopularidade. A Lava Jato
alimenta a revolta.
E a esperança.
O maior entrave do Brasil hoje é a má política. O Estado toma mais de
35% do que se produz no país e gere muito mal nossa fortuna. Mesmo
arrecadando tudo isso, a um custo enorme a todos, podemos agora perder o
selo de bom pagador. É um fardo que não foi criado por nós, mas por um
governo equivocado, perdulário e populista.
A primeira coluna que escrevi aqui, em 2007, tinha o título "É a
política, estúpido". Falava que o avanço econômico não era acompanhado
por avanço político, atrasando o país. A esperança era que o avanço
econômico se impusesse sobre o atraso político. Aconteceu o contrário. A
política travou a economia.
A exuberância econômica dos anos Lula anestesiou boa parte do país
diante dos malfeitos explícitos da política. Lula reelegeu-se depois do
mensalão. Dilma reelegeu-se depois do petrolão. Não que a corrupção seja
exclusiva de governos petistas. Ela é generalizada, epidêmica.
A República de Curitiba agora atinge o coração dessa política, e os
políticos já mostram que podem destruir o país se isso ajudá-los a
escapar.
O momento, porém, é outro. Do mesmo jeito que a euforia econômica
anestesiou a população contra a má política, a crise atual estimula a
revolta contra ela. Se não a mudarmos, não mudaremos, agora sabemos.
E a luta pela boa política não pode opor situação e oposição, PT e PSDB,
Lula e FHC. Ela opõe os locupletados ao resto do país. Os que querem
acabar com a corrupção e os que querem mantê-la.
A clivagem direita-esquerda é mais uma estratégia cínica para mistificar
os fatos e criar discurso. Quem entra nessa é inocente, para dizer o
mínimo.
Na enorme maioria de brasileiros que condena o governo Dilma, há muito
mais esquerdistas do que golpistas, muito mais pobres do que ricos,
muito mais trabalhadores do que patrões.
A classe C emergente tem mais motivos para vaiar os ministros de Dilma
do que a elite. É quem sofre mais porque tem menos recursos para se
defender e porque, sonhando nas asas da propaganda petista, acordou num
pesadelo.
Mas todo pesadelo acaba. Diante de tanto sofrimento, é possível ganhar a década.
Se a Lava Jato não for abatida pela República de Brasília, pode ser uma
virada histórica na política brasileira, mais relevante que essa aguda
crise.
Só assim ganharemos a década.
extraídaderota2014blogspot
0 comments:
Postar um comentário