Rodrigo Viga Gaier - Reuters
Os brasileiros de bem precisam ter a mesma ousadia dos "canalhas" para
ajudar a tirar o país da crise político-econômica-finaceira pela qual
passa o Brasil, afirmou nesta quinta-feira a vice-presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia.
A ministra, que fez uma palestra na Associação Comercial do Rio de
Janeiro, não esclareceu a quem se referia ao falar de canalhas e
preferiu focar no discurso sobre os homens de bem.
"Nós, brasileiros, precisamos assumir a ousadia que os canalhas têm",
afirmou ela, acrescentando que "essa ousadia não pode ser de pessoas que
não cumprem as leis, que usam o espaço público para interesses
particulares. Essa ousadia não pode ser exclusiva".
Cármen Lúcia acredita que chegou a hora de a população mudar de postura,
"reivindicar, e não apenas reclamar" e ajudar o país a superar a fase
difícil.
"Reclamação nunca levou a lugar nenhum", disse.
A insatisfação popular com escândalos de corrupção e o governo federal
levou centenas de milhares de pessoas às ruas em todo o país no fim de
semana para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff na terceira
manifestação nacional neste ano contra a gestão da petista.
Cármen Lúcia afirmou, no entanto, que "o impeachment é um instituto que
está previsto na Constituição, só que aplica-se em casos de processo de
crime de responsabilidade e não tem nada disso em andamento".
A ministra disse que a palavra que mais esteve presente na vida dos
brasileiros até agora neste ano foi crise e defendeu que todos se unam
para construir e oferecer propostas aos governantes para tirar o país do
que ela chamou de "estado de perplexidade".
"Nós, brasileiros, sabemos o que nós não queremos: corrupção, serviços
de má qualidade. Mas não sabemos propor como superar tudo isso... a
minha ideia é que como a Constituição permite iniciativa popular de leis
e participação dos cidadãos, nós também ofereçamos propostas de
políticas públicas. Não há bons ventos para marinheiro que não sabe onde
quer chegar", disse.
Ela lembrou que a lei da Ficha Limpa, que inviabiliza a candidatura de
políticos condenados pela Justiça, nasceu da iniciativa popular.
"Por sermos uma democracia partidária e, por ser partidária, nós sempre
pensamos que com os partidos que temos, 33 partidos, não podemos fazer
nada, mas iniciativa popular de leis não dependem de partidos e o
Congresso tem obrigação de votá-las, basta que façamos as propostas",
afirmou.
"Acho que as pessoas de bem em geral no Brasil se recolhem; não querem
participar e demonizam a política... a política é uma alternativa para a
guerra", completou.
Cármen Lúcia elogiou o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela
condução da operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção
envolvendo empresas estatais, órgãos públicos, empreiteiras e políticos.
"Ele é uma pessoa extremamente séria", disse ela a jornalistas.
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