por Carlos Alberto Di Franco o ESTADO DE SÃO PAULO
Domingo, 15 de março de 2015. Não foi o registro de mais um movimento de
protesto contra o governo. Foi diferente. Assistiu-se ao estopim de um
movimento de cidadania que tem tudo para mudar a cara do País.
No dia em que o Brasil completou 30 anos da redemocratização, pelo menos
2 milhões de pessoas foram às ruas em todos os Estados protestar contra
o governo Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores (PT), defendendo
a democracia, a ética e o fim da impunidade. O maior ato ocorreu em São
Paulo, onde cerca de 1 milhão de pessoas tomou a Avenida Paulista.
Todas as capitais nordestinas, região onde Dilma venceu a eleição do ano
passado com folga, tiveram protestos. No Rio de Janeiro, milhares foram
à Avenida Atlântica, em Copacabana.
Vestiram-se as praças e avenidas de verde e amarelo, diferentemente das
marchas de centrais sindicais e movimentos sociais na sexta-feira
anterior, dia 13/3, quando o vermelho do PT predominou. O contraste,
simbólico, transmitiu um forte recado: o Brasil não é do PT, do PMDB ou
do PSDB. É dos brasileiros.
A corrupção sem precedentes despertou algo que estava adormecido na alma
dos brasileiros: o exercício da cidadania. O povo percebeu, finalmente,
que os governantes são representantes da sociedade, mas não donos do
poder. Assistimos ao estertor dos caciques ideológicos. A força dos
currais eleitorais diminui em proporção direta ao tamanho da crise.
Daqui para a frente, os políticos serão crescentemente cobrados e
confrontados. Felizmente. Além disso, os brasileiros, mesmo os que foram
seduzidos pelo carisma do ex-presidente Lula da Silva, não estão
dispostos a renunciar aos valores que compõem a essência da nossa
História: a paixão pela liberdade e a prática da tolerância.
Eugênio Bucci, brilhante jornalista e bom amigo, afirma, com razão, que
"os jornalistas e os órgãos de imprensa não têm o direito de não ser
livres, não têm o direito de não demarcar a sua independência a cada
pergunta que fazem, a cada passo que dão, a cada palavra que escrevem.
(…) Os jornalistas devem recusar qualquer vínculo, direto ou indireto,
com instituições, causas ou interesses comerciais que possa acarretar -
ou dar a impressão de que venha a acarretar - a captura do modo como
veem, relatam e se relacionam com os fatos e as ideias que estão
encarregados de cobrir".
A independência é, de fato, a regra de ouro da nossa atividade. Para
cumprir a nossa missão de levar informação de qualidade à sociedade
precisamos fiscalizar o poder. A imprensa não tem jamais o papel de
apoiar o poder. A relação entre mídia e governos, embora pautada por um
clima respeitoso e civilizado, deve ser marcada por estrita
independência.
Um país não pode apresentar-se como democrático e livre se pedir à
imprensa que não reverbere os seus problemas internos. O governo
petista, no entanto, manifesta crescente insatisfação com o trabalho da
imprensa. Para o ex-presidente Lula - um político que deve muito à
liberdade de imprensa e de expressão -, jornalismo bom é o que fala bem.
Jornalismo que apura e opina com isenção incomoda, irrita e "provoca
azia". Está, na visão de Lula, a serviço da "elite brasileira".
Reconheço, no entanto, que Lula e seus companheiros não são críticos
solitários da mídia. Políticos, habitualmente, não morrem de amores pelo
trabalho dos jornalistas.
A simples leitura dos jornais oferece um quadro assustador do cinismo
que se instalou na entranha do poder. Os criminosos, confiados nos
precedentes da impunidade, nem mais se preocupam em apagar as suas
impressões digitais. Tudo é feito às escâncaras. Quando pilhados, tratam
de desqualificar a importância dos fatos. Atacam a imprensa e lançam
cruzadas contra supostos prejulgamentos.
O que fazer quando um ex-presidente da República faz graça com a
corrupção e incinera a ética no forno do pragmatismo e da suposta
governabilidade? O que fazer quando políticos "se lixam" para a opinião
pública? Só há um caminho: informação livre e independente. Não se
constrói um grande país com mentira, casuísmos e esperteza. Edifica-se
uma grande nação, isso sim, com respeito à lei e à ética. A
transparência informativa, de que os políticos não gostam, representa o
elemento essencial de renovação do Brasil.
Além da defesa da liberdade de imprensa e de expressão, as passeatas
deram outro recado: o do repúdio à intolerância. A radicalização
ideológica não tem a cara do brasileiro. O PT tenta dividir o Brasil ao
meio. Jogar pobres contra ricos, negros contra brancos, homossexuais
contra heteros. Quer substituir o Brasil da alegria por um país do ódio e
da divisão. Tenta arrancar com o fórceps da luta de classes o espírito
mágico dos brasileiros. Procura extirpar o DNA, a alma de um povo bom,
aberto e multicolorido. Não quer o Brasil café com leite. A
miscigenação, riqueza maior da nossa cultura, evapora nos rarefeitos
laboratórios arianos do radicalismo petista.
Está surgindo, de forma acelerada, uma nova "democracia" totalitária e
ditatorial, que pretende espoliar milhões de cidadãos do direito
fundamental de opinar, elemento essencial da democracia. Se a ditadura
politicamente correta constrange a cidadania, não pode, por óbvio, acuar
jornalistas e redações.
O primeiro mandamento do jornalismo de qualidade é, como já disse, a
independência. Não podemos sucumbir às pressões dos lobbies direitistas,
esquerdistas, homossexuais ou raciais. O Brasil eliminou a censura. E
só há um desvio pior que o controle governamental da informação: a
autocensura. Para o jornalismo não há vetos, tabus e proibições.
Informar é um dever ético. E ninguém, ninguém mesmo, impedirá o
cumprimento do primeiro mandamento da nossa profissão: transmitir a
verdade dos fatos.
EXTRAIDADOBLOGROTA2014
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