por Mary Zaidan Com Blog do Noblat - O Globo
Diante da corrupção deslavada e de um governo que se comprovou débil, Dilma até deveria ir à telinha no 1º de Maio. Para pedir desculpas. Ainda que tardias
Temerosos de um novo panelaço, os conselheiros de plantão da presidente
Dilma Rousseff não querem vê-la em rede de rádio e TV na próxima
sexta-feira, 1º de Maio. A inédita ausência seria menos grave do que o
desgaste da tradicional presença.
Partido gerado no útero do sindicalismo, o PT preferia não ter de
comemorar a data nobre em um ano em que as lambanças de mais de uma
década têm de ser corrigidas por um inevitável ajuste fiscal, com peso
no bolso do trabalhador. Avalia, então, que é melhor Dilma ficar
quietinha.
Há tempo para mudar de ideia. Nesse caso, mais difícil do que evitar o
bater de panelas é encontrar os ganchos para a fala presidencial, já que
o país real nega quase tudo o que Dilma disse nos quatro últimos anos
no mesmo Dia do Trabalho.
Em 2011,
ela aproveitou o 1º de Maio para lançar o programa Brasil sem Miséria.
Prometeu mundos e fundos, garantiu investimentos crescentes no PAC e em
infraestrutura. “Feliz do país que tem desafios gerados pelo
crescimento”, comemorou. A data marcou ainda o lançamento do Pronatec,
apresentado como uma revolução para qualificar a mão de obra brasileira.
Foram 9m23s de oba-oba. As obras empacadas do PAC e o Pronatec, com
atrasos nos pagamentos e sucessivos adiamentos no início dos cursos – de
7 de maio para 17 de junho e, em seguida, para 27 de julho –, que o
digam. O crescimento também não veio.
No ano seguinte,
Dilma dedicou boa parte dos 11m12s para escorraçar o lucro abusivo dos
bancos privados. Anunciou a redução de taxas nos empréstimos do Banco do
Brasil e da Caixa. Hoje, além da alta sucessiva dos juros, agora em
12,65%, não só os bancos estatais pararam de brincar com subsídios como
reduziram o volume de crédito. No dia a dia, o cidadão comum, incluindo a
tão alardeada nova classe média, está pagando 220% de juros no cheque
especial e 345% no cartão de crédito. As taxas mais altas desde 1995.
No 1º de Maio de 2013,
com a popularidade batendo em inacreditáveis 79% e apenas dois meses
antes das jornadas de junho que a jogou nas cordas, Dilma garantiu que
não haveria inflação.
Sempre cheia de si, ela se meteu onde não devia: proibiu aumento dos
combustíveis e reduziu em 20% as tarifas de energia. As intervenções
desastrosas resultam hoje em aumentos superiores a 40% nas contas de
luz, percentual ainda insuficiente para cobrir o rombo que ela provocou,
e em gasolina mais cara aqui dentro do que lá fora. Tudo isso para
nada. Nos últimos 12 meses a inflação superou os 8%.
Em campanha pela reeleição, o Dia do Trabalho de 2014 serviu
para Dilma defender a Petrobras, que já aparecia corroída pelo seu
partido desde as primeiras investigações, e para o anúncio de aumento de
10% no benefício do Bolsa Família.
A torrente de dinheiro que jorraria do pré-sal sempre brilhou nos
pronunciamentos do Dia do Trabalho. A educação e a saúde seriam salvas
pelos royalties do ouro negro que a Petrobras, em modelo de produção
partilhada, que substituiu o das concessões e ainda embutiu maior
nacionalização no negócio, extrairia do fundo do mar.
O mesmo pré-sal que agora, admite a Petrobras, terá de ter parceiros de
risco para sair das profundezas e – se tudo der certo – cobrir parte do
prejuízo oficial de R$ 21,5 bilhões por má gestão, R$ 6,2 bilhões
surrupiados em prol do PT e dos demais partidos da aliança governista.
Diante da corrupção deslavada e de um governo que se comprovou débil,
Dilma até deveria ir à telinha no 1º de Maio. Para pedir desculpas.
Ainda que tardias, poderiam reduzir o eco das panelas.
extraídadoblogrota2014
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